Primeiro-ministro de Itália teme desintegração da Europa
Se o euro se torna um factor de afastamento entre os Estados "então os alicerces do projecto europeu estão destruídos", argumenta Monti, que aconselha também os seus congéneres europeus a manterem a sua independência face aos parlamentos nacionais.
Sobre as recentes decisões do Banco Central Europeu (BCE) – vai preparar, durante as próximas semanas, um novo modelo de compras de obrigações, potencialmente mais eficaz do que o anterior, mas que apenas será accionado se os países em dificuldades recorrerem aos fundos de resgate europeus e aceitarem cumprir um programa de ajustamento – Mario Monti congratulou-se com a intervenção do seu compatriota Mario Draghi, presidente do BCE, lembrando que também ele tem defendido que o mercado da dívida soberana está fortemente fragilizado na zona euro. "São problemas que temos de resolver rapidamente", frisa o primeiro-ministro de Itália.
Draghi disse que qualquer nova compra de obrigações pelo BCE terá de ser precedida por um pedido de ajuda a um dos fundos de estabilidade financeira. Mas, mesmo nesta versão condicional, a ideia de o BCE financiar directamente os Estados da zona euro não agrada a todos os membros do banco -- particularmente à Alemanha.
“Essas preocupações são infundadas”, argumenta Monti. “É exactamente essa desconfiança que nos impediu de encontrar uma solução clara para esta crise. Temos de a superar e voltar a confiar uns nos outros.”
Mais autonomia internaNa Alemanha, os planos de Draghi foram mal recebidos por alguns sectores. Alexander Dobrindt, secretário-geral da CSU (principal parceiro da coligação governamental liderada pela CDU da chanceler Angela Merkel), acusou mesmo Draghi, em declarações ao jornal germânico Tagesspiegel de usar o BCE para satisfazer os interesses italianos.
Monti não ignora as lutas internas dos países do euro – Merkel foi muitas vezes acusada de não ajudar melhor os países mais pressionados, com receio de se tornar impopular e hipotecar o seu valor eleitoral – mas recomenda aos seus congéneres que mantenham o distanciamento que a salvação da Europa exige. "Se os governos se deixarem vincular e condicionar pelos Parlamentos, sem guardar espaço de negociação, então será mais provável a Europa desmoronar-se do que haver maior integração".
O actual executivo italiano não foi eleito. Monti dirige um executivo de tecnocratas, apoiado por uma larga maioria do Parlamento. Tem-se afastado das posições alemãs em relação à crise do euro e bate-se por um papel mais interventivo do BCE no mercado bancário e da dívida.
O chefe do Governo italiano considera “muito preocupante” o aumento das tendências nacionalistas na Europa, que “levantaram uma frente de confronto entre Norte e Sul”.
Monti sugere que, mais do que financiamento, o Sul da Europa precisa de solidariedade: “Se a Alemanha e outros países estão interessados em que a actual política em Itália tenha futuro, [devem dar] apoio moral, não financeiro”, disse, segundo traduções da entrevista feitas pelas agências EFE e Bloomberg e avançadas neste domingo de manhã pela Lusa.