Os diários de Dieter Roth

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A exposição Dieter Roth: Diaries, integrada no Edinburgh Art Festival, pode ser vista até 14 de Outubro

Memórias, diários, biografias mais ou menos ficcionadas costumam integrar as listas de livros recomendados para as férias. É verdade que todos estes géneros respondem, no fundo, a uma curiosidade bem humana: a de saber, de fonte mais ou menos segura, o que o outro fez, pensou, imaginou.

Os últimos anos viram mesmo desenvolver-se um género muito especial: os diários desenhados, autênticos registos visuais das vidas dos artistas. Além de ler, passamos também a ver e a poder mergulhar no íntimo da criação.

Dieter Roth, artista islandês, muito próximo do movimento Fluxus, foi alguém que justamente registou em diário o seu pensamento e a evolução do seu processo plástico de trabalho. O Edinburgh Art Festival (decorre de 2 Agosto a 2 de Setembro) mostra agora estes diários que Roth fez toda a sua vida. Neles registava listas, números de telefone, coisas para fazer, mas também fotografias, pensamentos, poemas, ideias. Boa parte da sua obra, aliás, pode ser encarada como um diário: no último ano de vida (morreu em 1998, com 68 anos, de um ataque cardíaco), registou todos os dias, em vídeo, o que fazia. A obra resultante chama-se Solo Scenes e é sempre apresentada em 128 monitores a funcionar simultaneamente. Noutra altura, na década de 70, realizou um projecto artístico que consistia em guardar todos os pedacinhos de lixo relacionados com a sua vida que tivessem menos de 0,5 cm de espessura.

Mas as suas obras mais conhecidas, e as que o aproximaram de Fluxus, embora o artista nunca tenha integrado formalmente este movimento, são as realizadas em materiais biodegradáveis. Quando recebeu a encomenda para realizar o retrato de um coleccionador suíço, por exemplo, Roth serviu-se de queijos de diversas qualidades, afirmando que queria ver as cores da decomposição e da podridão no rosto do retratado. Interessou-se também pela gravura, a edição de livros, a escultura e mesmo a música. Os seus diários permitem-nos mergulhar no próprio pulsar da sua riquíssima actividade criativa, consistindo no registo mais próximo que possamos ter do seu processo de trabalho. Luísa Soares Oliveira

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