Guimarães 2012 tem dívidas de 2,5 milhões

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João Serra diz que os fundos comunitários não chegaram Foto: Nelson Garrido

Vários artistas e fornecedores que, desde o início do ano, têm trabalhado em eventos da Guimarães 2012 ainda não receberam os pagamentos. Neste momento, a organização tem 2,5 milhões de euros em dívidas, justificando a situação com a demora nas transferências de verbas comunitárias que suportam o orçamento da Capital Europeia da Cultura (CEC).

A CEC pode mesmo ter que responder em tribunal pelo incumprimento dos contratos. É pelo menos essa a intenção do Teatro Praga, que entregou a um advogado os documentos necessários para avaliar a possibilidade de avançar para a via judicial de modo a garantir o pagamento do espectáculo Sonho de uma Noite de Verão, apresentado em Junho.

O contrato assinado pela CEC com a maioria das estruturas previa o pagamento adiantado de metade do dinheiro e a restante no dia da estreia. O Praga ainda não recebeu qualquer verba, revela a produtora Cristina Correia, segundo a qual a organização apontou vários prazos para o pagamento que não foram cumpridos.

Este não é, porém, caso único. A Materiais Diversos está, desde Março, à espera da segunda parte do financiamento da Guimarães 2012 ao espectáculo Viagem, de Filipa Francisco. A estrutura aguarda também o pagamento do espectáculo Penthesilia, de Martim Pedroso, estreado a 30 de Junho, o que totaliza 37.500 euros.

"É paradoxal que seja a Capital da Cultura a fazer com que as pequenas associações culturais se afundem", comenta Tiago Guedes, sublinhando que, em oito anos de colaboração com o Centro Cultural Vila Flor de Guimarães, nunca tinha acontecido uma situação do género.

Das três companhias contactadas, apenas a Instável, que apresentou Shelters, de Hofesh Shechter, em Junho, tem os pagamentos em dia. Depois de um período "complicado", foi feita uma adenda ao contrato e o dinheiro transferido duas semanas depois do espec táculo, conta Ana Figueira.

As dívidas, ainda que de menor valor, estendem-se a vários fornecedores de serviços à CEC, como gráficas ou empresas de aluguer de meios técnicos.

Os problemas são reconhecidos pelo presidente da Guimarães 2012, João Serra: "A dívida de curto prazo é de cerca de 2,5 milhões de euros." A Guimarães 2012 não pagou um quarto dos 10 milhões de euros investidos em programação nos primeiros seis meses de evento.

Segundo Serra, nos cofres da CEC "ainda não entrou" nenhum dinheiro do QREN, ainda que as verbas comunitárias estejam garantidas por um despacho do Governo que criou uma situação de excepção para Guimarães 2012. A previsão é que, a partir da próxima semana, comece a ser transferido o dinheiro e que a dívida possa ser ultrapassada até ao final deste mês.

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