Fundação EDP contrata sobrinha-neta de Catroga

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O grupo EDP alterou a sua estrutura accionista

Contrato de seis meses está a criar desconforto em alguns sectores do grupo. Fundação diz que segue critério de competência

A Fundação EDP contratou uma funcionária para a secção de arte que é sobrinha-neta de Eduardo Catroga, presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP. A nomeação está a causar desconforto entre sectores do grupo EDP que não poupam Catroga nem o administrador executivo da fundação que tem sido também o seu rosto público, Sérgio Figueiredo.

Eduardo Catroga encontra-se de férias na China neste momento. O PÚBLICO tentou contactar por diversas vezes, mas sem sucesso, o antigo ministro das Finanças e um dos homens-fortes nas negociações do PSD com a troika.

Sérgio Figueiredo confirmou que a familiar de Eduardo Catroga está a trabalhar na Fundação, mas salienta que vem da Culturgest com um contrato de seis meses para substituir uma outra funcionária em licença de maternidade. O gestor escusa-se a explicar em que circunstâncias a sobrinha-neta de Catroga foi contratada: se passou por uma selecção, se apresentou candidatura, se foi escolha pessoal do administrador ou outra via.

O mesmo gestor considera que o assunto é "absurdo" e que a Fundação, enquanto entidade privada, não tem de explicar como realiza as suas contratações, assegurando que se trata de uma funcionária cuja formação e experiência profissional são as indicadas para o trabalho que desempenha na secção de arte. "A Fundação, quando contrata, pauta-se por critérios de competência profissional e não-descriminação", respondeu ao PÚBLICO.

Também Sérgio Figueiredo tem sido visado nas críticas, face à passagem de um dos seus filhos pela fundação, no âmbito de um estágio universitário de seis meses, através do Instituto Superior Técnico. O administrador defende que este foi "um de vários sítios" por onde o jovem "passou para fazer os estágios profissionais necessários para a licenciatura". Este correspondia ao terceiro ano. Adiantou que o estágio terminou nos últimos dias.

Internamente, são múltiplos os factores invocados para explicar o momento de nervosismo que se vive e que, no geral, se deve a uma soma de mudanças: a entrada dos novos accionistas chineses da Three Gorges e de uma nova cultura empresarial; a escassez de capital e o aumento de endividamento da empresa; o fim do mercado regulado de electricidade que acaba com uma grande fatia de consumidores garantidos para a EDP; as mudanças de cadeira dentro da EDP, como a entrada de Sérgio Figueiredo para administrador executivo da EDP Produção, função que acumula com a de administrador executivo da Fundação; a nomeação de António de Almeida, ex-chairman da EDP, para presidente da fundação; e a entrada em vigor da nova lei das fundações que vai alterar procedimentos.

No caso concreto da Fundação EDP, esta gere este ano um orçamento de 22 milhões de euros, e já está a introduzir novos procedimentos e mais controlo orçamental. Esta entidade é financiada anualmente pela EDP e pelas empresas do grupo.

De 2011 para 2012, o orçamento da fundação cresceu 55%, com projectos de cariz social e cultural, realizados a nível interno e externo. A entidade tem sobretudo apostado em projectos para as regiões mais afectadas pela construção das barragens, como os apoios a equipamentos sociais e desenvolve também iniciativas no estrangeiro, como é o caso da aldeia de refugiados de Kakuma, no Quénia.

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