Solários aumentam risco de melanoma em 20%, ainda mais se usados antes dos 35 anos

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Mulheres e jovens são os principais grupos de risco Foto: Paula Abreu

A utilização de solários aumenta em 20% a probabilidade de desenvolver melanoma, a forma mais grave do cancro de pele, mas o risco duplica se a exposição começar antes dos 35 anos e aumenta 1,8% por cada sessão, revela um estudo publicado esta terça-feira no British Medical Journal. A Sociedade Portuguesa de Dermatologia pede leis mais restritivas.

Os investigadores do Instituto Internacional de Investigação Preventiva, em França, e do Instituto Europeu de Oncologia, em Itália, analisaram os resultados de 27 estudos sobre cancro de pele realizados nas últimas três décadas em 18 países da Europa ocidental, incluindo Portugal. Concluíram que dos 63.942 novos casos de melanoma diagnosticados anualmente nestes países, 3438 estão relacionados com a utilização de solários.

As mulheres são o grupo que regista maior incidência de melanoma causado pelo uso do solário - 2341 casos, no total de 3438. A taxa de mortalidade é proporcional: 498 mulheres morrem anualmente com a doença, enquanto que nos homens o número de mortes é de 296.

Mas o principal foco de preocupação está nas crianças e jovens, com os estudos a indiciarem que quanto mais cedo começa a utilização do solário, maior é a probabilidade de desenvolver melanomas na idade adulta. E o pior é que este uso começa a popularizar-se, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa. Na Dinamarca, por exemplo, uma investigação feita em 2008 apurou que 2% das crianças entre 8 e 11 anos e 13% das crianças entre os 12 e os 14 anos tinham utilizado um solário no ano anterior.

É ponto assente que a exposição solar é a causa ambiental mais significativa do cancro de pele mas nas últimas décadas os solários tornaram-se a principal fonte de exposição não solar aos raios ultravioleta, particularmente na Europa ocidental. Os autores dão o exemplo da Islândia, onde são raros os dias de sol e mesmo assim aumentou fortemente a incidência de cancro de pele, depois de 1990, sobretudo entre as raparigas jovens, tendo diminuído após 2000, quando as autoridades impuseram regras mais apertadas à actividade.

Os primeiros estudos sobre o uso dos solários e o desenvolvimento de melanoma subestimaram o risco associado a estes equipamentos, porque era ainda recente a sua utilização. Mas entre 2005 e 2011 o risco foi aumentando e deverá crescer ainda mais nos próximos 20 anos, estimam os cientistas.

Para pôr um travão nessa tendência, os autores do estudo propõem medidas radicais, como a proibição do uso público de aparelhos de bronzeamento. No estudo, deixam ainda uma reprimenda à indústria que tem sido incapaz de se autorregular. “Em vez disso, usou a oportunidade para afirmar que o bronzeamento artificial devidamente regulamentado é seguro, e que pode até ter benefícios para a saúde”, criticam os investigadores.

Segundo o estudo, a Organização Mundial de Saúde, a Comissão Internacional sobre Protecção de Radiação de Não-Ionização e a Sociedade Europeia para a Prevenção do Cancro da Pele mantêm que a prioridade na regulação deve ser a proibição do uso de solários por menores de 18 anos e o encerramento de solários não supervisionados. Estas medidas foram já tomadas na Austrália e em vários países europeus, incluindo Portugal, mas não nos Estados Unidos.

Leis deveriam ser mais restritivas, diz especialista

Apesar de Portugal já proibir o uso de solários sem supervisão, o presidente da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, (SPDV) Américo Figueredo, defende a necessidade de se rever a legislação no sentido de a tornar mais restritiva. O médico disse à Lusa que a principal conclusão do estudo publicado no British Medical Journal é “uma notícia esperada". “É o acumular de muitos estudos científicos que nos últimos dez anos têm demonstrado de forma clara que a exposição a solários aumenta a incidência de melanoma, nomeadamente nas mulheres e nos jovens”, afirmou.

Recordando que a actual legislação sobre solários data de 2005 e resulta da transposição de uma directiva comunitária de 2001, Américo Figueiredo defende que a lei deveria ser “mais restritiva”, nomeadamente no que toca ao tipo de lâmpadas utilizadas. “Na directiva de 2001 fomos muito permissivos, porque pode utilizar-se lâmpadas de UVB e só deveria ser permitido usar lâmpadas de UVA”, exemplificou.

O presidente da SPDV pede também mais fiscalização à aplicação da lei e ao funcionamento dos solários em Portugal. Sobre a realidade portuguesa, Américo Figueiredo estima que, em 2012, ocorram 10 mil novos cancros de pele, entre os quais cerca de mil novos melanomas.

O presidente da SPDV deixou ainda um alerta contra a exposição excessiva ao sol, uma vez que os solários serão a causa de apenas 5% do total dos melanomas. “Neste momento em que estamos no pino do Verão, é importante alertar as pessoas para a exposição moderada ao sol”, disse, lembrando que se deve evitar o sol entre as 11h e as 17h.

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