Pedro Mantorras despede-se hoje oficialmente dos adeptos do Benfica

Foto
Mesmo limitado desde 2002, Mantorras ainda fez golos importantes Nelson Garrido

É o primeiro jogo do Benfica em Portugal na pré-época, Luís Figo, Rui Costa e muitas antigas estrelas do futebol mundial vão voltar a calçar as chuteiras e a receita da partida reverte para uma causa humanitária: o apoio a crianças desfavorecidas de países africanos. No entanto, esta noite, às 20h45, no Estádio da Luz, os holofotes estarão todos apontados na direcção de um jogador: Pedro Mantorras. Aos 30 anos, o avançado angolano faz a despedida oficial dos relvados após uma carreira repleta de lesões no joelho.

Mantorras tinha apenas 19 anos, acabava de chegar de Alverca e o Benfica estreava-se na Liga 2001-02, na Póvoa de Varzim. Os "encarnados" até começaram bem e estiveram a vencer por 2-0, mas nos últimos minutos os poveiros conseguiram empatar a dois golos. No final do encontro, António Simões, à época director do futebol do Benfica, surgiu na sala de imprensa e, expressando a revolta benfiquista pela arbitragem do árbitro Isidoro Rodrigues - que, segundo os lisboetas, não teria penalizado o jogo duro dos defesas do Varzim -, lançou uma das mais famosas frases do futebol português: "Deixem jogar o Mantorras."

O angolano terminou essa partida com dois dedos deslocados e sem qualquer golo, mas durante o resto da conturbada época para o Benfica (acabou o campeonato em 4.º lugar), Mantorras foi quase sempre titular, marcou 13 golos e conquistou os adeptos do clube. A excelente temporada do jovem avançado fez despertar a cobiça dos principais clubes europeus. Barcelona, Real Madrid e Inter de Milão, entre outros, mostraram interesse, mas Luís Filipe Vieira, que ocupava o cargo de director desportivo, prontificou-se a anunciar que a promessa "encarnada" apenas deixaria o clube a troco de 18 milhões de contos (90 milhões de euros).

Para satisfação da grande maioria dos adeptos "encarnados", Mantorras manteve-se no Benfica, mas da mesma forma que a carreira do angolano teve uma ascensão meteórica, num ápice tudo se desmoronou: em 2002, teve uma lesão no joelho e, inicialmente, falou-se em meio ano de paragem, mas os seis meses prolongaram-se por mais dois anos.

O resto da história é um longo calvário para o angolano que, em 2007, na sua biografia, acusou o médico Bernardo Vasconcelos de ter sido o responsável pela sua não-recuperação. No livro, escrito pelo jornalista José Gabriel Quaresma, Mantorras afirma que o médico "enganou todo o mundo, incluindo os dirigentes, omitindo sempre o que na realidade estava a fazer" e lamenta não ter parado "em definitivo" para tratar devidamente a lesão. "O doutor dizia que era o menisco, que faltava músculo, que se resolvia", lamenta o angolano. Em resposta às acusações de Mantorras, Bernardo Vasconcelos acusou o jogador de lançar "falsas e injustas acusações" e o caso será resolvido nos tribunais.

Apesar de muito limitado, Mantorras ainda se manteve no plantel do Benfica até à época 2010-11 e apenas após a chegada de Jorge Jesus deixou de jogar. Em 2004-05, temporada em que regressou aos relvados após a lesão, o angolano transformou-se no talismã da equipa liderada por Giovanni Trapattoni, que venceu o campeonato: jogou apenas 357 minutos na Liga, mas marcou cinco golos decisivos na conquista do título pelos "encarnados". Depois, época após época, Mantorras foi perdendo espaço e, na primeira temporada de Jorge Jesus no Estádio da Luz, o angolano, pela primeira vez, não foi utilizado no campeonato.

O anúncio do final da carreira surgiu poucos meses depois pela boca de Luís Filipe Vieira, que prometeu uma "despedida formal" para Mantorras, um jogador que "nunca abandonará o Benfica". A homenagem chega agora, na partida entre o Benfica e a equipa da Fundação Luís Figo, e esta noite é certo que todos vão deixar jogar o novo embaixador dos "encarnados".

Sugerir correcção
Comentar