Bancos envolvidos no escândalo da Libor enfrentam custos de 22 mil milhões

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O Barclays já foi condenado a pagar 260 milhões de euros ANDREW WINNING/REUTERS

Multas, perdas e indemnizações podem ter custos milionários, segundo um estudo do banco Morgan Stanley

Os bancos envolvidos no escândalo da manipulação da Libor poderão ser chamados a pagar 22 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) em multas aplicadas pelas autoridades, assunção de perdas dos seus investidores e indemnizações aos clientes.

As contas foram feitas pelo banco norte-americano Morgan Stanley e fizeram ontem a manchete do jornal Financial Times (FT). Os cálculos, adiantam os técnicos do banco, não incluem eventuais penalizações que a Comissão Europeia venha a decidir, se encontrar provas de que a manipulação da Libor, e também da Euribor, foi feita em regime de cartel - ou seja, por acordo entre várias entidades bancárias.

Ontem, em Lisboa, o comissário europeu responsável pelo pelouro da concorrência, Joaquin Almunia, afirmou que esta investigação é uma das suas prioridades, como, aliás, o FT tinha revelado pela manhã.

Até agora, apenas o banco Barclays foi condenado a pagar uma indemnização de 260 milhões de euros pela prática de manipulação das taxas Libor. Na sequência desta penalização, demitiram-se o chairman da instituição e o seu presidente executivo, Bob Diamond. A acusação foi ao ponto de encontrar correspondência electrónica entre funcionários do Barclays que combinavam as taxas a comunicar para a fixação da Libor.

Mas, segundo o jornal londrino, há mais 11 instituições sobre as quais decorrem investigações que poderão conduzir a novas penalizações. E, caso esses bancos não aceitem colaborar com as autoridades, como fez o Barclays, a multa pode ser muito mais pesada.

"O Barclays não foi acusado de ter conduzido o seu negócio com falha de integridade. Se esta acusação se colocar no caso de outras instituições, por certo que as multas a aplicar serão muito mais elevadas", afirmou ao FT Peter Wrigth, um antigo promotor público.

Entre os bancos que foram apanhados nesta malha estão o Royal Bank of Scotland, que foi objecto de intervenção pública no auge da recente crise financeira, o HSBC e o JP Morgan, entre muitos outros.

Desmentidos

Esta semana, o Parlamento britânico começou a ouvir os principais protagonistas do caso Barclays, nomeadamente o chairman e o presidente executivo. E realizou também uma audição com o número dois do Banco de Inglaterra que, alegadamente, teria recebido pressões do então Governo trabalhista de Gordon Brown sobre o caso Barclays. No entanto, perante a comissão que investiga o caso, Paul Tucker negou essas pressões e também a alegação do Barclays de que teria dado uma espécie de luz verde à manipulação da Libor para evitar que se percebesse que o banco atravessava problemas de liquidez e de financiamento.

Tal como a Euribor é o indexante de referência para o espaço financeiro europeu, a Libor assume esse papel no universo anglo-saxónico e asiático e as preocupações sobre a sua formação há vários anos que circulam no mercado. Foi nesse contexto que o então presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, Timothy Geithner (actual secretário do Tesouro dos EUA), enviou, em 2008, um documento ao governador do Banco de Inglaterra, Mervyn King, onde avançava seis recomendações para melhorar a credibilidade e integridade da taxa Libor.

De acordo com o Washington Post, que avança a notícia, Geithner recomendou a eliminação dos incentivos que poderiam levar os bancos a manipular a taxa de juro interbancária e o estabelecimento de um "procedimento de informação credível".

O secretário de Estado tenta dar ideia de que esteve activo neste dossier, num momento em que o Congresso norte-americano admite chamá-lo a depor para perceber que papel desempenhou neste processo.

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