O que é que Modric tem?

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Modric ainda vestido de branco dr

Em 2008, o presidente do Tottenham perdeu a cabeça e foi a Zagreb oferecer no escuro mais três milhões de libras que a melhor oferta. Agora não consegue segurar o croata, com as ofertas loucas de outros clubes.

O que é que Luka Modric tem para ter atrás de si clubes como Real Madrid, Manchester United, Chelsea e Paris Saint-Germain, com propostas nunca inferiores a 40 milhões? É que todos estes clubes de topo estão interessados neste pequeno croata de 26 anos, um médio de 1,70m e que não chega aos 70 quilos, que se mostrou ao mundo no Europeu de 2008 e se consagrou neste Euro 2012.

Modric está com um pé fora do Tottenham por birra e vontade de ir para um clube maior. A ordem está dada em croata e é aceite em português por André Villas-Boas, o novo treinador dos Spurs, que ontem a explicou. "O clube respeita a ambição de Luka e a sua intenção de progredir futebolisticamente e o jogador também entende que tem sido uma peça importante para nós", disse Villas-Boas na sua apresentação oficial como técnico da equipa londrina, quarto classificado na Premier League do ano passado.

Mas quem é este jogador que tem a porta de alguns dos maiores clubes europeus aberta? "Sabe dar cada toque, cada passo, cada passe e sabe como se deve pisar um relvado e tratar uma bola. Com sabedoria táctica e carícia técnica", conta o analista Freitas Lobo. Dele diz que é o "primeiro passo da construção da personalidade de uma equipa". É isto que faz perder a cabeça dos treinadores adversários.

Muitos disputam Modric e o jogador já pediu ao clube que o ajude a ir-se embora. Nesse sentido, Villas-Boas confirmou à BBC que as "conversações com estes clubes continuarão até chegar a um acordo que seja aceitável para ambas as partes". O Tottenham tenta agora controlar os danos e não olha apenas para o dinheiro. Aos Spurs não lhes interessa que o jogador acabe a jogar na Premier League e reforçar os adversários directos na luta pelo título.

O jogador croata assinou pelo Tottenham em Abril de 2008, procedente do Dínamo de Zagreb por 16 milhões de libras (cerca de 20 milhões de euros), a contratação mais cara do emblema de Londres, presidido por Daniel Levy, ele que pessoalmente tratou da transferência para os Spurs em 2008. Foi a Zagreb para fechar o negócio: "Dou três milhões de libras a mais que a melhor oferta."

"É um autêntico líder", destaca Robert Jarni, antigo futebolista croata da Juventus e do Real Madrid. "É o típico jogador que imprime vontade à equipa. Não pára quieto, mesmo quando a bola está parada. Tem olfacto de golo, é veloz e imparável no um-contra-um", acrescentou.

Antes, jogou no Zrinjski de Mostar, foi considerado o melhor jogador do campeonato e ficou célebre a sua frase: "Quem sobrevive a uma Liga como esta, na Bósnia, pode ser jogador em qualquer parte".

O Cruyff dos Balcãs

Em criança, foi uma vítima mais na Guerra dos Balcãs. Teve de abandonar aos seis anos a terra da sua família e a sua casa de Obrovac, para se instalar no hotel para os refugiados de Zadar - o seu pai, Stipe, fez parte do exército croata e um dos seus avós morreu como consequência da guerra.

Aos 16 anos, Luka foi para o Dínamo de Zagreb (aí fez 31 golos e 29 assistências numa época), depois de ter sido rejeitado no Hadjuk Split: culpa de Zvonimir Boban, antigo jogador do Milan, que não aprovou o seu físico débil.

"Não é apenas um grande trabalhador, também tem cérebro e dá calma e serenidade ao centro do campo. Recupera a bola, passa bem e faz jogar quem está ao lado", descrevia-o assim o antigo treinador do Liverpool Gérard Houllier, que o elegeu na altura para a equipa ideal do Euro da Áustria e Suíça, em 2008, quando fazia parte da equipa técnica da UEFA.

Modric ganhou a alcunha de Cruyff no dia de estreia na selecção croata, quando um adepto foi ter com ele e lhe ofereceu uma camisola laranja com o número 14 (número que ainda hoje utiliza), uma réplica daquela que vestiu o holandês Johan Cruyff no Mundial da Alemanha de 1974. Tudo parecia conjugar-se: médio artístico, franzino e com técnica, descendente da melhor cepa de centro-campistas croatas como Prosinecki ou Boban. Não é um talento como o foi Cruyff, mas já fez com que o ano passado o Chelsea oferecesse 40 milhões, prontamente rejeitados pelo Tottenham. Agora, White Hart Lane parece demasiado pequeno para Luka, o Cruyff dos Balcãs.

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