Rui Costa não descansa, nem na folga: "Sou o homem da Movistar para a geral"

Rui Costa admite ser o líder da equipa
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Rui Costa admite ser o líder da equipa dr
Rui Costa (aqui na Volta à Suíça) passou a ser o homem forte no Tour
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Rui Costa (aqui na Volta à Suíça) passou a ser o homem forte no Tour Foto: Denis Balibouse/Reuters

O ciclista tomou o lugar do chefe de fila Alejandro Valverde e assume o papel principal da equipa no Tour. Um feito para este português de 25 anos, fresco da vitória na Suíça e já a pensar nos Jogos

É dia de descanso no Tour. Tão de descanso que não conseguimos falar com Rui Costa porque... está a descansar. É a namorada Carla quem atende o telemóvel do ciclista português recém-vencedor da Volta à Suíça (a quarta corrida por etapas mais importante do calendário depois do Tour, Vuelta e Giro). Ela diz-nos que está com o seu telefone porque é uma espécie de relações públicas do namorado, e este está nas massagens. "É dia de descanso, mas o telefone não pára de tocar e ele assim não descansa nada..." Afinal, nem no dia de folga o ciclista da Movistar repousa.

Carla pede que mandemos as perguntas por email e ele logo responderá. Ou ela escreverá, que é mais rápido, mas com Rui Costa a ditar, promete. Nós acreditámos. E acreditamos, porque só alguém que tem pela frente uma das mais duras tarefas para o corpo humano (como correr etapas da Volta à França) pode dizer algo assim: "Nunca estive a lutar pela geral de uma prova tão longa e não sei até onde conseguem aguentar as minhas pernas." Um desabafo de alguém exausto. Seguido de outro. "Este Tour é um teste à minha capacidade física."

Antes de podermos saber o que pensa o 11.º classificado do Tour (que deixou na sombra Valverde), Carla, a RP-namorada, põe-nos ao corrente da pressão. A pressão dos jornalistas e a da prova e dos outros ciclistas.

"A Vota à Suíça foram dez dias, agora o Tour são 21, três semanas sempre em esforço, é o dobro, e ele está a sentir a pressão porque pensam que ele vai ganhar." Dizemos que não pensamos assim. O Rui tem ainda muitos anos para tentar vencer a prova em duas rodas mais emblemática do mundo. Feito que nenhum português conseguiu, a não ser umas vitórias em etapas, como a que o Rui obteve há um ano (venceu a oitava etapa em 2011).

Rui Costa é excêntrico q.b. para ser uma celebridade no Tour, saltou do anonimato com o triunfo na Suíça e tem sete pássaros, duas araras maracaná e cinco papagaios (com nomes que variam entre o Ulisses, Íris e Hércules). Não precisa de mais para sair do anonimato. Já tem os olhos (e pressão) em cima dele. Mesmo assim aguenta-se e está no 11.º lugar, a 32 segundos do 8.º. Nada mau. Sente que não é apenas mais um no pelotão. "Não tenho pressão nenhuma em mim. Sinto, sim, alguma responsabilidade em lutar pela geral, mas nada mais. Acho que desde que ganhei a etapa no Tour do ano passado saí do anonimato e passei a ser mais notado e respeitado dentro do pelotão", diz-nos.

E não se fica por aqui. A má prestação de Alejandro Valverde, é 28.º da geral, deu um impulso ao português, de 25 anos, que corre este ano pela quarta vez a Volta à França. Os papéis inverteram-se agora - na Suíça foi o espanhol, campeão de uma Vuelta em 2009, a ajudar o português; agora seria Costa a puxar pela vitória de Valverde. Mas as contas saíram trocadas.

Rui Costa é, neste momento, o melhor ciclista da Movistar e, em teoria, não seria o líder; mas, sendo o melhor da geral, já há ordens da equipa para trabalharem para si. Perguntamos se se sente o chefe de fila.

"Apenas posso afirmar que sou o homem da Movistar para a geral", responde. É-o, é ele o rosto da equipa agora. Mas reserva distâncias. "O líder é e será sempre Valverde." "É um homem que respeito e admiro e sinto muito que a sorte o tenha posto de fora da luta pela classificação, porque estava forte, motivado e com boas pernas."

O Tour agora é dominado pela Grã-Bretanha. A Sky tomou conta da prova com Bradley Wiggins (primeiro da geral) e o seu ajudante Christopher Froom (terceiro), que ameaça a candidatura de Cadel Evans (segundo). Por isso, Rui Costa quer ver como reage o seu corpo. "O meu objectivo para já é testar-me a mim mesmo na luta pela geral e descobrir como reage o meu corpo à carga de uma prova de três semanas, pois os meus 25 anos ainda não me permitem ter a resistência dos grandes líderes que lutam pelos lugares cimeiros."

Em França ainda não é o tempo de brilhar no pódio. Mas e os Jogos? "As olimpíadas são só um dia. É verdade que não vou dar ao corpo o descanso de que ele necessita, mas espero estar ao meu melhor nível e honrar a nossa bandeira." O Tour regressa hoje à estrada.

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