“Foi a Olivedesportos que enriqueceu com os clubes e não o contrário”

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Mário Figueiredo, presidente da Liga Foto: Ricardo Castelo/nFactos

Mário Figueiredo foi mandatado para centralizar na Liga Portuguesa de Futebol Profissional a negociação dos direitos televisivos. Promete desafiar o monopólio da Olivedesportos e alcançar receitas entre os 120 e 147 milhões de euros. Em entrevista ao PÚBLICO o dirigente mostrou-se ainda surpreendido com a decisão da assembleia geral da Liga de proibir os empréstimos de jogadores entre clubes do mesmo escalão: “É passar do oito ao 80.”

A centralização dos direitos televisivos é um triunfo?

É um projecto meu e foi a minha bandeira eleitoral. Esta foi a segunda vitória e uma confirmação. Já tinha sido apresentado um estudo jurídico no conselho de presidentes [que reúne os presidentes dos clubes profissionais] do passado dia 12 de Março, que indiciava a invalidade de muitas cláusulas existentes nos actuais contratos televisivos, nomeadamente ao nível da exclusividade e da duração.


O que é que os clubes aprovaram nesse momento?

Na altura, a questão que se colocava era a de quanto valeriam os mesmos direitos se fossem centralizados na Liga. A resposta foi dada no conselho de presidentes desta quinta-feira, com um estudo esclarecedor a comprovar os ganhos potenciais para os clubes, que oscilarão entre os 120 e os 147 milhões de euros, contra os 65 milhões actuais. No cenário mais conservador, é praticamente o dobro. Assim, ficou aberta, em 12 de Março, a possibilidade de se apresentar uma queixa junto da Comissão Europeia (CE), tendo como base a violação das normas da concorrência e o monopólio da Olivedesportos.


Quem realizou o estudo conhece a realidade nacional?

Foi uma empresa inglesa de consultadoria. Trabalha para a Bundesliga [campeonato alemão], Endemol [produtora holandesa], FA [Federação Inglesa de Futebol], Premier League [Liga inglesa], Red Bull, etc. É especialista também do mercado televisivo europeu, com um conhecimento transversal do seu funcionamento.


A Liga vai tentar renegociar com a Olivedesportos?

Não abdicamos do princípio de centralizar a negociação dos direitos televisivos, mas não descartamos a possibilidade de procurar um acordo com o operador. Preferimos sempre uma solução negociada. Temos a queixa pronta para dar entrada em Julho na CE, mas vamos esperar, até Setembro, para se tentar chegar a um acordo.


Quantos presidentes estiveram presentes na votação?

Entre 15 e 16 [de um universo de 32]. Mas participaram também representantes de outros clubes, ainda que sem direito a voto.


Faltaram Benfica, FC Porto e Sporting?

O Benfica esteve representado pelo dr. Paulo Gonçalves [assessor jurídico da SAD “encarnada”].


Muitos clubes podem argumentar que a votação não foi representativa...

Penso que não, porque a decisão já vinha de uma anterior reunião, já mencionada, a 12 de Março. Na altura, já tinha ficado estabelecido que a Liga seria mandatada para centralizar a negociação dos direitos televisivos se o estudo apresentado confirmasse que os clubes poderiam ganhar até ao dobro do que ganham actualmente. Nessa altura votaram favoravelmente 28 presidentes.


Na altura também não votaram os três “grandes”...

Eles vão perceber que também podem ganhar mais com uma nova realidade, que será, ao mesmo tempo, mais solidária e equitativa entre os clubes. Em 2017, os direitos televisivos podem atingir os 165 milhões de euros. O sistema que queremos introduzir em Portugal já existe em Inglaterra e traduz-se em vender os direitos de transmissão, divididos em pacotes, que irão depois ser leiloados publicamente, sem que nenhum comprador possa ficar com uma percentagem superior a 60 ou 70% do total. Queremos abrir o mercado. Dizem que a Olivedesportos tem sido um “pai” para o futebol português, com sucessivos adiantamentos financeiros a clubes desesperados, mas a realidade é inversa, com o futebol a enriquecer esse grupo. Deve mais aos clubes do que o contrário.


Ficou surpreendido com a decisão de acabar com os empréstimos de jogadores entre clubes que disputam o mesmo escalão?

Muito surpreendido e a medida coloca-me grandes reservas, até pela rapidez com que foi aprovada [durante uma assembleia geral extraordinária, de quinta-feira passada]. Acho que fazia mais sentido limitar o número de empréstimos. Passámos do oito para o 80.


Os 38 clubes que vão participar no sorteio dos dois campeonatos profissionais, no dia 5 de Julho, já estão licenciados?

Não propriamente. O que tem sido prática nos últimos anos é os clubes inscreverem-se e só posteriormente, até 15 dias úteis antes da respectiva competição ter início, apresentarem as certidões de ausência de dívidas à Segurança Social e ao fisco.


Quando teremos árbitros estrangeiros a arbitrar em Portugal?

Ainda não sei. A ideia [intercâmbio de árbitros entre algumas das principais ligas europeias] partiu do presidente do Conselho de Arbitragem, Vítor Pereira [e já foi aprovada pela Federação Portuguesa de Futebol e pela Liga], mas não tem determinada uma temporada específica para entrar em vigor. Para já, é uma possibilidade em aberto, mas ainda faltam determinar muitas questões logísticas: como irá decorrer a observação destes árbitros para efeitos de avaliação, quais os critérios de nomeação, etc. São questões complicadas que se colocam.


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