LebensStrasse

Gostamos de inquéritos — e de música. Decidimos encostar à parede pequenas editoras portuguesas. Conhecemos a LebensStrasse numa carta escrita à mão e descobrimos que os fundadores são invisíveis

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Artur Aleixo

Queriam pôr duas caixas de papelão no Príncipe Real com a roupa e os sapatos de ambos para iludir a câmara do fotógrafo. Cedemos à "(não) presença" de Artur Aleixo e João Calaim, da LebensStrasse Records, editora que tem no seu catálogo Noiserv, Sun Glitters (está a ser preparada a reedição em vinil de "Everything Could Be Fine" e um novo EP), Coolrunnings, entre outros. Próximas actividades: o EP de estreia de Violetness e, "passado o estio", os discos de Soft Care, Snow Wite e Imperial Topaz. Ah, e mais umas coisas: "Estamos a fazer um esforço financeiro para patrocinar a árvore de Natal mais pequena do mundo. (...) Caso a legislação nos permita, queremos fundar a Companhia das Águas de Mercúrio e, caso tenhamos tempo livre, gostaríamos de rever o 'Branca de Neve' segundo João César Monteiro."

Ninguém vos disse que já não se vive da música?

A senhora das finanças com quem falámos quando estávamos a criar a editora teve o cuidado de nos avisar disso, mas ainda não tinha passado tempo suficiente desde que tínhamos ouvido uma estrela cadente da música country dizer “I’m here just for the girls”. De qualquer forma, isso não é totalmente verdade.

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Luís Octávio Costa e Amanda Ribeiro têm saudades do inquérito da revista Pública

Escolheram o nome da vossa editora numa noitada de Scrabble?



O nome foi escolhido, entre duas noitadas em Berlim, sem que se soubesse propriamente para o que era. Calhou ser para uma editora, mas também podia ter sido para uma linha de roupa infantil ou para uma marca de aparadores de relva. Agora temos o nome Dirty Dancing para outra editora, mas talvez o acabemos por empregar numa marca de sopa de tomate enlatada.

Que bandas de outras editoras levariam para uma ilha deserta?

Au Revoir Simone, Julia Holter, Grimes, Avalon Emerson. E levaríamos com certeza milhares de discos, entre os quais alguns de Ariel Pink e das Electrelane, ambos por razões muito específicas.

A vossa editora tem sotaque?

Atão na teim!? Do Alentejo, ainda que nunca tenhamos editado nenhum artista alentejano. Nesse campo, há inglês para todos os gostos, mas também se fala francês e toca-se piano.

Quando é que foi a última vez que encheram os bolsos — e o ego?

Os bolsos, foi da última vez que tivemos de esconder caricas de cerveja para eliminar provas. O ego, a cada vez que um locutor da BBC se engana a dizer o nome da editora. Na realidade, achamos que o Tom Ravenscroft já nem tenta dizer o nome de forma correcta, pois achou uma forma que nos parece ter mais charme. Mas tem acontecido muita coisa boa neste aspecto, como, por exemplo, o reconhecimento por parte do Teppei, que é o dono de uma formidável loja japonesa e que, ao ser entrevistado, referiu a LebensStrasse como sendo uma das suas editoras favoritas da actualidade, ou o facto de o disco de Slow Magic ter esgotado durante o período de pré-encomendas.

Um álbum também se come com os olhos. Quem é o verdadeiro artista?

Sentimo-nos tentados a dizer que é o Photoshop, mas muitas das capas têm sido feitas pelos próprios músicos — que nós tentamos procurar gente da renascença (isto é, que saiba rezar o terço); quando tal não acontece, trabalhamos com o Tiago Serrano, que como a editora é alentejano sem sotaque.

Qual é o melhor sítio para ouvir música?

Seria perfeito poder ouvir música nas reuniões de trabalho. De resto, qualquer sítio se pode tornar melhor com a música certa, que às vezes é o silêncio ou uma interpretação do John Cale, não querendo ser redundante.

E que tal uma piada seca?

Ich esse eier jerne! Que, na verdade, quer dizer “eu como ovos amiúde” e é usado como resposta à expressão “Mache eier”. Além de seca, goza a própria hermenêutica e isso é o puro estado de êxtase a que uma expressão pode chegar.

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