Tribo indígena Surui lança “mapa cultural” com a Google

Mapa online resulta de uma parceria de cinco anos entre os Surui e a Google. Objectivo passa por combater a poluição e a desflorestação ilegal

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Almir Surui teve de convencer o pai a aceitar que era melhor trocar “o arco e a flecha pelo computador paiter.org

A empresa tecnológica Google lançou no domingo, 18 de Junho, o “mapa cultural” da tribo brasileira Surui, habitante da Amazónia, que vai permitir partilhar a cultura e o conhecimento da floresta de um povo que luta contra a poluição e a desflorestação ilegal. O mapa online — que resulta de uma parceria de cinco anos entre a tribo indígena brasileira e o gigante tecnológico norte-americano — foi apresentado pela primeira vez num evento paralelo da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável (Rio+20), que começou na quarta-feira, no Rio de Janeiro, Brasil.

O mapa é uma colecção de fotografias e vídeos de locais, plantas e animais da selva amazónica, disponibilizando percursos tridimensionais pelo território dos Surui, no estado da Rondônia (noroeste do Brasil). O mapa está disponível no portal online da tribo (em vídeo acima), no qual se começa por explicar que Surui é o nome atribuído por antropólogos. O verdadeiro é Paiter, que quer dizer, na língua da tribo, “o povo verdadeiro, nós mesmos”.

“A nossa terra tem sido extremamente ameaçada pela violência do programa Polonoroeste, a corrupção e omissão das agências do governo e pela invasão não autorizada de pessoas aleatórias, tais como madeireiros e mineiros”, denuncia a tribo, no portal. Foi o chefe da tribo, Almir Surui, que propôs à Google uma parceria que protegesse o território e a cultura ancestral do seu povo. Fechado o acordo, teve de convencer o pai a aceitar que era melhor para a tribo trocar “o arco e a flecha pelo computador portátil”.

Seguem-se mais tribos

A ferramenta agora disponibilizada foi enriquecida pelos próprios índios, que recolheram informações sobre a floresta e o que lá se passa usando telemóveis com um "software" especial e ligação directa ao Google Earth. E que lhes permitirá registar os níveis de carbono, vigiar as fronteiras e denunciar actividades ilegais.

No fórum onde foi lançado, Rebecca Moore, da Google Earth, disse que várias tribos têm contactado a empresa para participar numa experiência semelhante. “Esperamos que o mapa cultural dos Surui seja o primeiro de uma série de mapas, nos próximos anos. Achamos que a metodologia pode funcionar para outras tribos”, realçou, adiantando que já estão a ser planeadas experiências com duas tribos vizinhas e que serão os próprios Surui a dar formação sobre a ferramenta.

Kristen Coco, uma das organizadoras do fórum, elogiou o mapa como “uma colaboração bem sucedida entre o sector privado e os povos indígenas”. O chefe Almir quis divulgar o projecto na conferência Rio+20 como forma de alertar para a necessidade de uma utilização sustentável das florestas e da preservação do modo de vida dos povos indígenas.

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