Grécia é um navio a afundar e os jovens estão a saltar borda fora

O país vai às urnas domingo, 18 de Junho, numa eleição em que se joga também o futuro da Europa. Para Vicky e Elissavet, duas jovens gregas, a emigração é a única hipótese. "Só vejo dois cenários: um trágico e outro trágico."

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Jovens numa feira de emprego

Vicky Symiakaki, 28 anos, tem centenas de amigos no Facebook. Destes, muitos são estrangeiros, ou gregos que emigraram. Ela diz – e é uma constatação, sem qualquer tom de queixa: "Estão todos melhor do que eu."

Não é porque veja na rede social que Petros acabou de chegar a um bar em Berlim. Ou porque Panagiota tenha ido a um concerto em Budapeste, ou porque Katerina (a sua irmã, que vive no Reino Unido) tenha ido às compras em Londres. "É porque os vejo a progredir", diz. "São promovidos se fizerem bem o seu trabalho. Aqui, se és boa no que fazes, a recompensa que tens é darem-te mais trabalho", diz. "Na Grécia, arranja-se um emprego, mal pago, e fica-se com ele, rezando para não se ser despedido."

Vicky vai recebendo as informações de fora, via Facebook, email ou Skype: o namorado, a viver na Suécia, mudou de emprego (para lugares melhores) duas vezes nos últimos anos. "Não procurou sequer! Encontraram-no no Linked In [rede de contactos profissionais], e fizeram-lhe uma oferta" – alguém procurar um empregado directamente é neste momento um pensamento completamente estranho na Grécia. "Ou contratam pessoas conhecidas, ou põem anúncios — o último que vi num site tinha 1500 "pageviews" e tinha sido publicado nesse dia", nota. 

Elissavet Korovessi, 32 anos, tem a mesma experiência. Mais: conta até que já lhe custa telefonar para responder a anúncios. "As pessoas que atendem o telefone já nem são bem-educadas. Devem receber tantos telefonemas..."

Futuro: emigração 

Vicky está a trabalhar num site em part-time, Elissavet não tem trabalho desde o Verão passado. As duas são um pouco diferentes. Vicky, de sombra verde-clara metalizada nos olhos, top branco com estrelas coloridas e uma flor rosa-choque a apanhar o cabelo, tem uma perspectiva um pouco mais optimista. Elissavet, com um top branco simples sobre calças largas estampadas, está sentada no seu quarto sem vontade de enfrentar o mundo e o calor lá fora. É alta, mas parece menos pela postura curvada, embora os braços a gesticular vão lembrando, de vez em quando, a sua verdadeira estatura – e que não está assim tão conformada. 

Há outra diferença entre as duas que talvez explique porque uma está um pouco mais bem-disposta: Vicky ainda vive com os pais, num apartamento nos subúrbios norte de Atenas, Elissavet partilha um apartamento perto de Omonia, com tudo o que isso implica: não ter dinheiro para pagar as contas, sair e ver os vultos emaciados e cambaleantes de álcool e droga, lidar com "os imigrantes ilegais"... "Está a ficar insuportável."

Os planos de emigração das duas estão em graus diferentes de preparação, mas ambas estão decididas. Vicky vai para a Suécia, aproveitando ter lá o namorado. Vai estudar a língua, provavelmente tirar um segundo curso. "Talvez turismo", diz, pensando sempre num eventual regresso à Grécia. "Não vou para ficar a vida toda", garante.

Elissavet combinou ter um último trabalho na Grécia, no Verão, como supervisora de uma equipa de voluntariado. "Vai ser um modo de ter um pequeno rendimento e de dar algo ao meu país antes de me ir embora", explica. "Depois, tenho muitos amigos no estrangeiro, vou começar a bater a portas. Se alguma se abrir, vou." Está a pensar em Holanda, Bélgica. Trabalhos que tenham a ver com o que fez antes, supervisão, coordenação de equipas de limpeza profissional, secretariado. "Não há nada para mim aqui, e não me parece que volte a haver." 

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