A alface, a "rainha" das saladas

Foto
MIGUEL MADEIRA

Pode ser mais dura ou mais macia, mais verde ou até a fugir para o roxo, mas a verdade é que não há salada sem ela. A alface criou raízes na nossa mesa e pode ser ainda mais saborosa se cultivada pelas nossas próprias mãos.

Com o aproximar do tempo quente apetece sempre uma boa salada, quer como prato principal de uma refeição ligeira, quer como acompanhamento. Já pensou como poderá ser mais gostoso saborear as plantas que produziu com as suas próprias mãos e tê-las à sua disposição sempre que lhe apetecer?

A alface (Lactuca sativa L., família das Asteráceas), considerada a "rainha das saladas", é muito fácil de cultivar, quer numa horta, quer numa varanda, pois além de ter um ciclo muito curto (oito a 14 semanas), adapta-se bem a quase todos os tipos de solo e pode ser cultivada durante todo o ano ao ar livre ou debaixo de abrigos (estufins ou estufas) durante o Inverno.

Origem da alface

A alface é originária do Próximo Oriente e da Região Mediterrânica e cultivada desde os tempos mais remotos. Os egípcios utilizavam o óleo das sementes e na Roma Antiga esta planta era servida como entrada, juntamente com outros legumes crus, em banquetes festivos.

Que variedades escolher?

As variedades existentes no mercado são muitas e variam quase de ano para ano. A escolha deverá considerar a adaptação à época de produção, a forma e a resistência a doenças. Assim, há variedades para produção no Outono-Inverno e na Primavera-Verão. Quanto à forma, há alfaces que formam repolho ou "alfaces de cabeça" e as que não o formam ou "alfaces de folhas". A textura das folhas varia desde macia ou amanteigada (lisas), a rija e estaladiça (frisadas). Há variedades com as nervuras das folhas muito marcadas e até crocantes e outras com os bordos das folhas recortados ou não. A cor das folhas varia desde verde-clara a verde-escura, havendo algumas de cor arroxeada em toda a sua extensão, ou apenas nas extremidades, resultante da acumulação de pigmentos naturais, as antocianinas.

Sementeira ou plantação?

A multiplicação da alface faz-se por semente, por sementeira no local onde será produzida, ou por sementeira no viveiro, seguida de transplantação. No viveiro, a planta pode demorar cerca de 30 a 40 dias, pelo que se queremos ter folhas para as nossas saladas num espaço de tempo mais curto o melhor será comprar plantinhas prontas para plantar, geralmente com um pequeno torrão de terra, o que facilita o seu pegamento após transplante. Estas plantas podem ser adquiridas em viveiristas e em mercados locais. Se optar por fazer o seu próprio viveiro, basta colocar as sementes em recipientes de baixa altura com turfa, com humidade suficiente para a germinação das sementes. Estas podem ser dispostas em linha, a uma profundidade de cerca de 1 cm e cobertas com um pouco de turfa ou terriço. As sementes germinam ao fim de três a sete dias e as plantinhas estão prontas para transplantação quando tiverem entre três a cinco folhas. A plantação deve ser feita em linhas, espaçadas entre si de 30 a 40 cm e 25 a 30 cm entre as plantas na linha. Quando se instala a cultura por sementeira directa no local de produção, as jovens plantas devem ser desbastadas três a quatro semanas após sementeira, para deixar cerca de 25 a 30 cm entre as plantas na linha.

A alface cresce bem durante todo o ano, no entanto, no Verão, quando as temperaturas são muito elevadas (> 24ºC durante vários dias), as folhas endurecem e podem ficar amargas. As alfaces de repolho e as de folhas macias e lisas são mais exigentes em temperaturas mais baixas, em especial no final do desenvolvimento, para formarem a cabeça e não espigarem (formarem flores). A alface cresce bem em quase todo o tipo de solo, preferindo os mais frescos, bem drenados e com um bom teor de matéria orgânica. Pode também adquirir substrato comercial se quiser produzir em vasos ou floreiras, numa varanda.

Regar, sim ou não?

A alface deve ser regada regularmente, sem encharcar, necessitando de mais água à medida que as folhas crescem e quando as temperaturas são mais elevadas. A rega durante o Verão deve ser mais frequente para evitar o espigamento da planta. O excesso de água no solo pode provocar asfixia das raízes e o aparecimento de doenças, enquanto a falta de água pode atrasar ou parar a formação e o crescimento das folhas. Deve-se evitar regar nas horas de maior calor, bem como molhar as folhas, pois além de serem sensíveis a podridões, podem queimar.

Quando colher?

De manhã, quando as plantas estão túrgidas, não devendo ocorrer depois de chuva ou de rega, porque as folhas ficam muito quebradiças. As alfaces de cabeça devem ser colhidas quando pesarem entre 100 a 150 g e as alfaces de folhas com cerca de 35 folhas. No entanto, neste último tipo, se quiser ir colhendo umas folhas de vez em quando, pode fazê-lo, retirando as folhas intermédias, e deixando as mais jovens a crescer, protegidas pelas exteriores, mais velhas.

Outra sugestão

Além da utilização das folhas para a confecção das mais diversas saladas, também podem fazer-se infusões que são tranquilizantes, acalmam a tosse e ajudam a digestão.

Maria Elvira Ferreira é Engenheira Agrónoma e da Associação Portuguesa de Horticultura

Sugerir correcção