Visto das Caxinas

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Aqui das Caxinas, o país continua a parecer um barco à deriva. E olhem que de barcos percebem os caxineiros, ou não formassem eles uma das maiores comunidades piscatórias do país. Percebem de barcos e de futebol.

Neste caso, basta ver que na selecção – que esta quarta-feira parece ter encontrado um rumo, apesar das falhas do "capitão" – há os caxineiros e os outros. Os outros, que eu, simples adepto, desconheço de onde são – excepto o luso-brasileiro Pepe e os luso-cabo-verdianos Nani e Rolando – devem ser de um lugar qualquer. Serão de Lisboa? Do Porto? Ninguém, durante o jogo, mo diz.

Já o Fábio Coentrão, que me ajudou a nunca mais ter de soletrar o meu sobrenome ao telefone de cada vez que falo com uma pessoa que me não conhece, é o Figo das Caxinas. Caxineiro, tal como o Hélder Postiga, que na quarta-feira lá pescou o seu peixe, depois de várias marés de azar. E tal como o Bruno Alves, que se não fosse um jogador "duro" por ser filho de um antigo futebolista do Varzim, o brasileiro Washington, seria duro na mesma por ter crescido, menino, nas ruas da Poça da Barca, a metade norte deste lugar de Vila do Conde que nem sequer é freguesia.

A culpa é da imprensa, que ávida de heróis, gosta de imaginar nos jogadores caxineiros a raça de intrépidos pescadores, capazes, julgam os jornalistas, de enfrentar qualquer borrasca. Que se vista de terra assusta, imaginada no mar toma sempre proporções épicas. A sorte é que a maioria dos pescadores não vai em heroísmos, como se viu no início desta semana em que o vento os deixou em terra, estragando, pelo menos por aqui, a expectativa de comer umas sardinhas pelo Santo António.

Em todo o caso, está visto que esta pitada do sal das Caxinas faz bem ao futebol português. E, pelo que se viu contra os vikings dinamarqueses – que até deixaram por este lugar alguns genes, bem visíveis no porte e nas cores de algumas famílias – fez falta à traineira lusa mais um caxineiro na companha. Alguém que ajudasse o Fábio que, não raras vezes, se viu sozinho, emalhado entre dois ou três adversários. Num barco a sério seria inaceitável que um pescador visse outro em dificuldades e não lhe deitasse a mão. Principalmente se em causa estivesse um peixe tão valioso quanto uma vitória. E neste jogo, ganho merecidamente, ela quase nos escapou, como uma enguia entre os dedos.

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