Papabubble: artes visuais em forma de rebuçado

Na loja, todo o processo é visível para os clientes — desde a panela com o açúcar a ganhar ponto até ao rebuçado, pronto a consumir. "Tem esse lado de sedução"

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Um arquitecto e um fotógrafo profissional deixaram a profissão para fazerem rebuçados. Pode parecer o guião de um filme, mas é verdade. A Papabubble nasceu em 2009, na Baixa de Lisboa. Todos os dias, Vasco Pinto e Nuno Couceiro dissolvem açúcar com trabalho manual e imaginação e criam saborosas obras de arte.

De segunda a sábado, das 10h00 às 19h30, a Papabubble está aberta para quem quiser comprar rebuçados artesanais e aprender como se fabricam. Vasco Pinto deixou a arquitectura para se dedicar à gestão do projecto que conta já com dois anos e meio de existência. Para Nuno Couceiro, o amigo de Coimbra, a instabilidade financeira de um fotógrafo "freelancer" surgiu como impulso necessário à mudança de actividade. “Decidi abrir uma loja minha, porque não tardava nada e estava a trabalhar numa loja”, conta. “E é algo que me dá prazer”, acrescenta o responsável pela produção da Papabubble.

Este prazer, descobriu-o em Barcelona, onde viveu durante três anos, já que se trata de um "franchising" importado da capital catalã, surgido em 2003. Depois de uma breve tentativa, soube, através do irmão de Vasco, que o arquitecto também estava interessado na ideia e decidiram unir esforços para tornar a Baixa de Lisboa mais doce. “Chegámos à conclusão que tínhamos os mesmos planos, o que permitiu que a loja fosse possível”, explica Vasco, que continua a viver convictamente na cidade académica, embora passe muito tempo na capital.

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Deixaram as artes visuais e dedicaram-se a uma arte que também tem muito de visual, a julgar pelas cores atractivas e pelos frutos desenhados minuciosamente na face dos rebuçados, que mais não têm do que um centímetro de diâmetro. “Acho que nos fascinou a todos a componente estética do produto”, refere Vasco. À componente visual, Nuno acrescenta a possibilidade de mostrar ao público todo o processo de fabrico. “É trabalhar com as mãos, fazer as coisas do princípio ao fim e as pessoas verem o que é e como é feito”, afirma. “Noutro dia fui comprar um móvel e ninguém me soube dizer de onde vinha, é incrível!”, justifica.

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Da panela à boca, pode ver-se tudo

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Na loja, todo o processo é visível para os clientes. “Desde a panela ao rebuçado que pode provar”, concretiza Vasco. Mas, há outras fases pelo meio: depois do açúcar estar no ponto desejado, passa para a uma mesa fria até se transformar numa pasta moldável. De seguida, aplicam-se o ácido e os corantes e passa-se para outra mesa, desta vez aquecida, onde se criam filamentos, que são cortados manualmente e embalados em sacos ou boiões. Forram-se assim as paredes da entrada, com cores e sabores que atraem pessoas de todas as idades. “Tem esse lado de sedução, de poder acompanhar toda a produção”, sintetiza.

Com uma imagem inicialmente projectada para um público entre os 20 e os 40 anos, rapidamente essa tendência se inverteu. “Temos pessoas dos 7 aos 77. Clientes mais idosos e imensas visitas de crianças, ou até turmas de hotelaria de 20 anos”, conta Vasco. “Podem levar um frasco para o trabalho e isto também é um óptimo substituto do fumo”, sublinha. As encomendas personalizadas são uma parte do trabalho diário da equipa que, por vezes, se depara com alguns pedidos extravagantes. “Os chupas prestam-se imenso a isso. Noutro dia, um cliente quis um em forma de jipe, ou outro em forma de Nemo”, afirma o arquitecto. “Para mim, estranho foi um panda com um galo ao colo ou um rebuçado em forma de caixão”, acrescenta Nuno.

Ter um negócio desta natureza é desafiante. Apesar de "franchising", o projecto tem uma individualidade própria e sabores que só se encontram em Lisboa. “Rebuçados moles de coco ou duros de ananás-hortelã e cuba livre (rum e coca-cola) ”, enumera Vasco. A própria matéria-prima, o açúcar, é exigente. “Há rebuçados que podem demorar quatro a cinco horas e sempre que se estragam é no fim. Às vezes, é um pouco frustrante”, conta Nuno.

Uma novidade na Baixa

“Se eu fosse compulsivo, o pior era mesmo o açúcar, porque, embora faça parte da dieta normal, exige alguns cuidados como não exagerar e lavar os dentes”, afirma o arquitecto. Em relação aos rebuçados, o fotógrafo diz ser selectivo. “Como de um só sabor até enjoar, depois começo com outro”.

A localização na Baixa da Lisboa foi uma opção dos amigos, por oposição aos centros comerciais. “Interessa-nos a loja enquanto agente a cidade. Acho que somos uma novidade na Baixa e contribuímos para que ela seja melhor do que o que era”, afirma Vasco.

No futuro, abrir outra Papabubble na Baixa do Porto, também é uma possibilidade, apesar de não ser “altura para grandes precipitações”. As prioridades, de momento, são inovar e manter o volume de clientes, sendo que, em breve, devem começar a produzir gomas. “Tentamos todos os dias que este seja um rebuçado de excelência”, remata Vasco.

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