Já conhece os irmãos Malaquias?

Nico, Júlia e Antônio são Os Malaquias, os três irmãos que estão no centro do romance da brasileira Andréa del Fuego, que, no final do ano passado, venceu o Prémio de Literatura José Saramago. Ficam sozinhos e órfãos logo no início do livro, quando um raio cai sobre a Serra Morena durante a noite e mata os pais deles. A partir daí, os destinos dos três irmãos afastam-se e aproximam-se ao sabor das contingências de uma narrativa que é como um contínuo e delicado murmúrio, ou um fio de água brotando de uma fonte.

A linguagem parece despojada de artifícios e, todavia, possui uma certa respiração poética e o culto das subtilezas incandescente que, a cada momento, são capazes de gerar imagens ora duras, ora oníricas. O realismo mais concreto e quotidiano é, aliás, constantemente tocado pelo relâmpago da magia, construindo-se um universo híbrido no qual se move uma galeria de personagens capaz de provocar o leitor e os seus sentimentos, simpatias e aversões. Parece uma história de encantar e talvez, no fundo, o seja de facto, com personagens mortas que acham forma de continuar a habitar o mundo dos vivos e uma hidroeléctrica capaz de provocar misteriosas transformações na paisagem.

Objecto, no início do ano, de uma edição para sócios do Círculo de Leitores, Os Malaquias foi recentemente publicado também pela Porto Editora e está agora ao alcance de todos os leitores, permitindo mais um vislumbre sobre a literatura brasileira contemporânea. Andréa del Fuego, refira-se, foi a segunda autora do Brasil a conquistar o Prémio Saramago, depois de Adriana Lisboa, em 2003, ter ganho com Sinfonia em Branco (da mesma autora, a Quetzal acaba de publicar em Portugal Azul-Corvo). Jorge Marmelo

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