Factura do supermercado aumentou 5,5% com subida do IVA e dos preços

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Consumidores estão a substituir produtos mais caros e a optar, cada vez mais, pelas marcas próprias Nuno Oliveira

Nos primeiros três meses deste ano, os portugueses gastaram mais 5,5% nas compras de bens alimentares devido às alterações na tabela do IVA e aos aumentos dos preços.

De acordo com dados da Kantar Worldpanel fornecidos ao PÚBLICO, a factura do supermercado cresceu em valor face ao mesmo período do ano passado, o preço médio subiu 5,8% e o volume de compras caiu 0,4%.

"A subida do IVA nos produtos alimentares foi incontornável e aumentou os encargos das famílias. Esse efeito também se deveu a actualizações anuais de preço, próprias do início do ano. Houve um impacto negativo no volume comprado", analisa Paulo Caldeira, director de marketing da empresa de estudos de mercado.

Da charcutaria à mercearia, foram poucas as prateleiras que escaparam, em Janeiro, ao aumento do imposto de valor acrescentado para a taxa normal de 23%. Ao abrigo do programa de ajustamento acordado com a troika, o Governo limitou a aplicação da taxa reduzida de 6% a um cabaz de bens essenciais e de produção nacional. Uma medida muito criticada pela indústria agro-alimentar, que prevê uma queda no consumo de 1,3% este ano e a eliminação de 11 mil postos de trabalho directos neste sector.

As constantes promoções das cadeias de distribuição ainda não tiveram reflexo nos indicadores sobre os gastos das famílias, restringidas não só pelo aumento dos impostos, mas também pela quebra de rendimentos e instabilidade económica. Paulo Caldeira sublinha que "há que separar o impacto mediático do impacto real" porque "são duas coisas distintas".

Por outro lado, com a sombra da crise, os portugueses não recorreram apenas às promoções para poupar dinheiro: substituíram alguns produtos por outros mais em conta (por exemplo, em vez de comprarem carne de vaca, optam por frango) e colocaram mais artigos de marcas da distribuição no carrinho de compras. A quota de mercado dos produtos de marca própria atingiu neste primeiro trimestre de 2012 o valor mais alto de sempre: 38,6%.

Promoções em cadeia

O Continente, do grupo Sonae (dono do PÚBLICO) há muito que focou as atenções no cartão de cliente para vender produtos com 50 ou 75% de desconto, mas o concorrente mais directo, a cadeia Pingo Doce, só em Maio entrou na corrida das promoções. Os supermercados da Jerónimo Martins venderam quase todos os produtos a metade do preço no Dia do Trabalhador, em compras superiores a 100 euros, e têm seguido a mesma política de descontos aos fins-de-semana, agora centrados numa determinada categoria de produtos (carne ou peixe, por exemplo).


Os efeitos desta estratégia só serão conhecidos em Julho, quando a empresa liderada por Pedro Soares dos Santos divulgar os resultados financeiros do primeiro semestre. Está também por avaliar o "efeito em cadeia" que a promoção inesperada do Pingo Doce teve noutras lojas de retalho alimentar, que lançaram descontos elevados nas semanas seguintes.

"Para já, sabemos que os impactos das promoções no negócio foram óptimos para a Sonae. O Continente já vinha embalado do ano passado: 75% dos lares portugueses fizeram uma compra no hipermercado da Sonae, que conseguiu reter 50% do dinheiro gasto [pelas famílias] ", diz Paulo Caldeira.

A empresa da Sonae conseguiu aumentar as vendas em 1%, para 743 milhões de euros, e, por isso, vai manter a estratégia de descontos em cartão. Em respostas enviadas por email, fonte oficial do grupo diz que os resultados do primeiro trimestre demonstram que a política seguida "tem sido a correcta". "Cerca de 90% das vendas do Continente foram realizadas através do cartão", sublinha a mesma fonte. O volume de descontos concedido aumentou 32% entre Janeiro e Março, num total de 95 milhões de euros.

No mesmo período, o Pingo Doce registou uma quebra de 0,8% nas vendas like for like (tendo em conta o mesmo número de lojas e excluindo as vendas de combustível) e, nos resultados do primeiro trimestre, já avisava que iria reforçar "o posicionamento de preço".

Com a promoção dos 50%, deixou de se apresentar como um supermercado "sem talões e complicações", mas fonte oficial da Jerónimo Martins sublinha que se mantém "inalterada a estratégia de ter preços estáveis e baixos transversais a todas as categorias de produtos e a todos os meses do ano". No actual contexto de contracção de consumo, o Pingo Doce diz ter "flexibilidade necessária" para responder às necessidades dos clientes. E isso passa por "criar oportunidades adicionais de poupança".

A nível internacional, o impacto económico das promoções da grande distribuição já foi estudado pela consultora Global Insight, que concluiu que o Wal-Mart, maior cadeia de retalho alimentar do mundo, foi responsável por uma poupança de cerca de 957 dólares por pessoa (766 euros) em 2006.

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