Hélder Postiga, o bom discípulo do checo Antonín Panenka
Antonín Panenka entrou na órbita da selecção da antiga Checoslováquia em 1973. Não defrontou Portugal nos dois jogos de apuramento para o Campeonato da Europa de 1976 porque não tinha um estatuto de titular garantido. O seleccionador de então, Vaclav Jezek, era um adepto das rotações e alterava frequentemente a base da equipa, mas não o deixou de fora na final do Estádio do Marakaná, do Estrela Vermelha, a 20 de Junho de 1976.
Foi necessária uma certa dose de coragem para fazer o que Panenka fez a Sepp Maier, o famoso guarda-redes da selecção alemã que se apresentou em Belgrado para a final do Campeonato da Europa com os galões de melhor do mundo. Uli Hoeness, esse mesmo que é o actual presidente do Bayern de Munique, tinha falhado o quinto penálti de desempate, atirando para as nuvens, e Panenka assumiu a responsabilidade de sentenciar a final a favor da Checoslováquia, após uma igualdade a dois golos. Executou então o tal toque em jeito para o meio da baliza, depois de esperar que o guarda-redes se atirasse para um dos lados. Gesto muito treinado e estimulado por apostas nos treinos, que vários jogadores imitaram bem, como Zidane, Totti, Pirlo ou Postiga, e outros nem sempre com a habilidade requerida.
Chamaram-lhe, então, “poeta” e até monumento do futebol europeu, mas Pelé disse na altura que só um génio ou um louco é que podia arriscar uma coisa daquelas numa final. Alguns anos mais tarde o checo confessava ao PÚBLICO que os seus colegas lhe pediam para não repetir a graça nos jogos a doer e até o ameaçavam de o mandarem dormir no corredor do hotel.
A Checoslováquia ficou-lhe grata por aquele golo que significou uma vitória importante em plena guerra-fria, mas só aos 31 anos é que o libertou para que pudesse aceitar um bom contrato com o Rapid de Viena. Na Áustria, jogou ao lado de Hans Krankl e, em 1984-85, ainda conseguiu ser o melhor marcador da Taça UEFA, com cinco golos. Os austríacos foram à final com o Everton e perderam por 3-1, mas o checo já não era indiscutível, entrando só no segundo tempo a substituir Weinhofer. Andava, então, pelos 37 anos e as pernas começavam a fraquejar um pouco, muito embora ainda conservasse uma boa técnica e uma certa magia nos pés, que se expressava na marcação dos penáltis e dos livres. Ainda passou mais alguns anos na Áustria, arrumando as botas num modesto clube chamado Kleinwiesendorf.
Antonín Panenka regressou a Praga já com nova designação de capital da República Checa, e verificou que os adeptos dos “cangurus” nunca se tinham esquecido dele. Convidaram-no para presidente do Bohemians, o seu clube de sempre que, por azar seu, acaba de descer à II divisão.