França mostra reservas sobre disponibilidade alemã para liderar Eurogrupo

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Ayrault diz que a criação de obrigações europeias é "uma perspectiva" Foto: Ezequiel Scagnetti/Reuters

O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, mostra reservas sobre uma eventual nomeação do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, para a liderança do Eurogrupo, criticando a estratégia de combate à crise pela via da austeridade, e ao insistir que o sucessor de Jean-Claude Juncker tem de colocar o crescimento no topo das prioridades.

A posição francesa foi assumida por Jean-Marc Ayrault numa entrevista publicada nesta segunda-feira no site da revista L’Express, onde é abordada a disponibilidade do governante alemão para liderar o fórum informal que reúne os ministros das Finanças dos 17 países da zona euro.

Questionado sobre se a escolha de Schäuble para o Eurogrupo é “impensável”, o primeiro-ministro francês não assume uma posição clara. Mas critica o discurso que tem dominado as posições de Schäuble sobre o caminho para a resolução da crise das dívidas, em particular, a situação na Grécia.

Os cidadãos “estão cansados deste clima de austeridade sem perspectivas, que cria argumentos para os populismos”, atira, depois de insistir na prioridade do crescimento para devolver “um novo futuro com confiança” à Europa.

“Os alemães fizeram muitos esforços para a sua reunificação, são exigentes sobre a capacidade de cada país em controlar as suas contas públicas. Mas o problema é hoje o crescimento e o fosso que aumenta entre a Europa do Norte e do Sul”, observa.

Por isso não se compromete sobre qual dos ministros com assento no Eurogrupo é que França vai apoiar para a liderança deste fórum informal. Desvaloriza a disponibilidade do governante conservador alemão para suceder ao luxemburguês Juncker, eleito em Janeiro de 2010 e cujo mandato termina a 17 de Julho. E reforça o que François Hollande defendeu uns dias antes de tomar posse como Presidente, quando este elogiou o trabalho de Juncker considerando útil o seu papel para defender o crescimento como via para inverter a estratégia de resolução da crise.

Na pequena parte da entrevista onde são abordadas directamente as questões económicas europeias, a Grécia domina as preocupações do primeiro-ministro socialista francês. Reitera o apoio de Paris sobre a permanência do país na moeda única. E, neste caso, frisa a convergência de posição com a Alemanha. “Esperamos, como os alemães, e como a imensa maioria dos gregos, que continue na zona euro. É preciso dizer [à Grécia] que a Europa não a vai deixar cair, nomeadamente utilizando melhor os fundos estruturais, mas que têm reformas a fazer, por exemplo, a fiscal”.

Sobre o dossier francês para a criação de obrigações europeias, Jean-Marc Ayrault frisa vagamente que “tudo deve estar em cima da mesa”, acrescentando que as incertezas em torno da situação grega obrigam a “abordar todas as hipóteses”. “As eurobonds, François Hollande disse-o, são uma perspectiva. Enquanto isso, o Mecanismo Europeu de Estabilidade pode desempenhar um papel mais [relevante] do que o esperado. Tenho confiança no pragmatismo dos nossos parceiros alemães”.

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