Novo órgão sensorial descoberto nas maiores baleias-de-barbas

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Do tamanho de uma toranja, o órgão sensorial localiza-se na extremidade dos ossos da mandíbula, na zona do queixo Carl Buell/Nicholas Pyenson

Cientistas no Canadá e nos Estados Unidos descobriram um novo órgão sensorial em certas baleias-de-barbas, mais precisamente nos rorquais, que serve para coordenar a sua forma característica de se alimentar, que consiste em abrirem a boca e expandirem a garganta para a encher de água e mais água. A descoberta poderá permitir explicar como é que estas baleias conseguem sustentar um corpo de um tamanho tão desmesurado. O trabalho foi publicado na última edição da revista científica Nature.

Os rorquais incluem a baleia-azul (o maior animal de sempre, que pode pesar até 150 toneladas), o jubarte ou baleia-de-bossa, a baleia-comum ou ainda a baleia-anã. Todas elas possuem um conjunto de pregas de pele, semelhante a um fole de acordeão, que se estende da parte inferior da boca até ao umbigo. Quando a baleia se alimenta, essas pregas, ao expandirem-se, conferem à cavidade bucal do animal um tamanho descomunal, que se enche então de quantidades astronómicas de água - água que a seguir será filtrada pelas barbas ao ser expulsa, para apenas serem retidos o krill e os peixes que contém.

Nick Pyenson, paleobiólogo da Instituição Smithsonian, na cidade de Washington, e colegas recolheram amostras de carcaças de baleias-comuns e baleias-anãs recentemente apanhadas na Islândia (onde a pesca comercial decorre desde 2006 segundo quotas anuais estabelecidas pelo Governo).

A análise de imagens do queixo dos cetáceos, graças à técnica de tomografia computadorizada de raios X, revelou a presença de um órgão, uma bola do tamanho de uma toranja, alojado no tecido ligamentoso situado entre as extremidades dos ossos da mandíbula destes animais (que se juntam precisamente ao nível do queixo). Nas imagens obtidas, os vasos sanguíneos e os nervos apareciam a entrar, a partir da mandíbula, neste órgão até agora desconhecido. O novo órgão está ligado ao resto do corpo por tecido neurovascular.

Um gole gigantesco

Curiosidade: para conseguir obter as imagens, os cientistas tiveram a ajuda de técnicos da FPInnovations, empresa da área das indústrias florestais que possui o único aparelho de tomografia X do Canadá suficientemente grande para receber os enormes espécimes de baleias (e que, normalmente, é utilizado para analisar troncos gigantes). A partir dessas imagens, puderam então obter um mapa tridimensional da estrutura interna dos tecidos das baleias.

"Pensamos que este órgão sensorial envia informações ao cérebro de forma a coordenar o mecanismo complexo de alimentação, que implica rodar as mandíbulas, inverter a língua e expandir as pregas e a camada de gordura subcutânea", diz Nick Pyenson, que dirigiu o trabalho quando estava a fazer o pós-doutouramento na Universidade da Colúmbia Britânica, em comunicado de imprensa desta universidade canadiana. E, no momento do início da refeição, "ajuda provavelmente os rorquais a sentirem a densidade das presas".

A baleia-comum, a segunda mais comprida do planeta, podendo atingir mais de 25 metros, é capaz de engolir, num único gole e em menos de seis segundos, até 80 metros cúbicos de água e de matéria sólida - um volume igual ou superior ao tamanho do próprio animal.

Num estudo anterior, Jeremy Goldbogen, da Universidade da Colúmbia Britânica, co-autor da actual descoberta, já tinha mostrado que estas baleias conseguem capturar dez quilos de krill a cada gole, o que é indispensável para sustentarem uma massa corporal que ronda as 50 toneladas.

"Em termos evolutivos, a inovação permitida por este órgão sensorial desempenha um papel fundamental num dos métodos de alimentação mais extremos observados em criaturas aquáticas", salienta, por seu lado, um outro co-autor, Bob Shadwick, também da Universidade da Colúmbia Britânica. "E dado que as características físicas necessárias a este modo de alimentação evoluíram antes dos corpos extremamente grandes dos rorquais de hoje, é provável que este órgão sensorial - e o seu papel na coordenação dos movimentos - tenha sido responsável pelo facto de eles terem adquirido o estatuto de maiores animais à face da Terra", acrescenta Bob Shadwick.

"Apesar de décadas de caça às baleias, que ofereceram inúmeras oportunidades para documentar a sua história natural, os pormenores da sua morfologia e biomecânica mantiveram-se desconhecidos", remata a equipa no comunicado. Pelo menos, a partir de agora esse desconhecimento diminuiu um pouco mais com a descoberta de um órgão que coordena a forma como se alimentam alguns dos maiores animais da Terra.

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