Cavaco sugere à Indonésia que invista em Portugal e acena com a troika

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Cavaco Silva e Susilo Bambang Yudhoyono juntos em Jacarta

Na primeira visita de um Presidente da República português ao país, o chefe de Estado afirma que o programa de ajustamento promove um ambiente para negócios "mais competitivo"

Cavaco Silva referiu ontem, durante o primeiro dia da visita que está a realizar à Indonésia, o "ambicioso programa de ajustamento" que Portugal está a levar a cabo como uma ferramenta que "irá tornar a economia portuguesa e o ambiente de negócios mais competitivos".

Nas suas duas intervenções públicas, Cavaco Silva centrou o discurso no reforço da cooperação económica entre os dois países, mas foi no jantar que o Presidente indonésio lhe ofereceu, e que contou com a presença de empresários portugueses, que citou o programa imposto pela troika e que Passos Coelho está a levar a cabo como benéfico para o investimento estrangeiro.

"Como é sabido, no seguimento da crise financeira que se abateu sobre a zona euro, Portugal está neste momento a implementar um ambicioso programa de ajustamento estrutural, que irá tornar a economia portuguesa e o ambiente de negócios mais competitivos", afirmou Cavaco Silva.

O chefe de Estado português acrescentou que o país vive "um ambiente de grande receptividade à iniciativa empresarial e ao investimento estrangeiro".

A Portuguesa em Jacarta

Cavaco Silva chegou ao início da tarde a Jacarta, sendo o primeiro Presidente da República português a visitar o país com mais muçulmanos no mundo, que era há não muito tempo adversário e hoje alimenta relações cordiais. Uma visita que teve a economia como marca principal - num país com um mercado apetecível de 235 milhões de habitantes.

Pelas largas estradas de Jacarta, algumas cortadas ao trânsito para não atrapalhar a marcha à comitiva, viam-se fotografias do casal presidencial português ao lado do indonésio, e bandeiras das quinas ao lado da vermelha e branca da indonésia. No palácio presidencial de Merdeka (Liberdade), Susilo Bambang Yudhoyono, o chefe de Estado indonésio, e a mulher aguardavam Cavaco Silva. E pela primeira vez foi tocado o hino português, A Portuguesa, no átrio de honras do palácio indonésio.

Cavaco passou revista às tropas presidenciais que ladeavam as bandeiras dos dois países e partiu de imediato para um encontro com o seu homólogo. Pouco depois, os dois chefes de Estado voltaram a aparecer publicamente para fazerem uma declaração. Na sua intervenção, o Presidente português não deixou de lembrar os 10 anos da independência de Timor-Leste e a eleição do novo Presidente nas primeiras palavras públicas que proferiu na Indonésia.

Cavaco Silva congratulou-se com a presença de Susilo Bambang Yudhoyono nas comemorações da década de independência de Timor-Leste e lembrou que os dois países são hoje parceiros na ajuda ao desenvolvimento do Timor. Yudhoyono acenou duas vezes com a cabeça em sinal de confirmação das palavras de Cavaco, que disse desejar que o Presidente da Indonésia visite Portugal em breve. Yudhoyono acabou por confirmar que o fará.

O chefe de Estado português reafirmou também o apoio de Portugal à candidatura timorense à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), onde a Indonésia detém uma posição muito forte. "Estou certo de que dentro em pouco Timor-Leste será mais um membro da ASEAN."

Trocas aumentam 658%

Os dois presidentes manifestaram ainda a vontade de aumentar os laços de amizade e a cooperação em diversas áreas, especialmente na área económica, e Yudhoyono lembrou mesmo que, entre 2010 e 2012, as trocas comerciais entre os dois países aumentaram 658%, atingindo um valor de 160 milhões de dólares. O chefe de Estado português afirmou que os "empresários indonésios são bem-vindos a Portugal" e abordou a crise na zona euro, mostrando convicção de que "vai ser ultrapassada."

"Os empresários indonésios são muito bem-vindos a Portugal e estou convencido de que uma visita do Presidente Susilo Bambang Yudhoyono será um sinal muito importante para o relacionamento amigo, concreto e benéfico para os dois países", frisou Cavaco Silva. "Queremos que os empresários dos nossos dois países conheçam melhor as potencialidades da Indonésia e de Portugal", continuou. Essa oportunidade poderá ter lugar amanhã, durante a realização de um encontro entre empresários portugueses e indonésios.

Já Susilo Bambang Yudhoyono começou por destacar o significado histórico da visita de Cavaco Silva: "Trata-se de uma visita histórica porque, desde 1950, quando Portugal e Indonésia abriram relações diplomáticas, esta é a primeira a visita de um Presidente da República portuguesa", sublinhou, recordando que o antigo Presidente Sukarno visitou Portugal nos anos 60.

"Esta visita abre uma nova página no aumento da cooperação, amizade e parceria entre os dois países. Estamos empenhados em encontrar novas oportunidades para uma cooperação mais forte no futuro", acrescentou.

Antes dos discursos, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países, Paulo Portas e Marty Natalegawa, assinaram três acordos de cooperação na área económica, um para passaportes diplomáticos especiais e de serviço com isenção de visto e um outro para as áreas da educação, cultura, ciência, media, tecnologia e desporto.

O Presidente indonésio fez mesmo questão de sublinhar que os seus cidadãos são grandes adeptos do futebol e que seguem com interesse a modalidade praticada em Portugal. "Sabemos que o futebol português é muito bom. Há muitos fãs na Indonésia", disse.

Escrita à moda antiga

De manhã, Cavaco Silva concluiu a sua visita a Timor-Leste com mais uma iniciativa dedicada à língua portuguesa, peça central na sua primeira visita ao país.

O Presidente da República, na companhia do seu homólogo timorense, Taur Matan Ruak, e de dois antigos Presidentes do país, Xanana Gusmão e Ramos-Horta, visitou vários pavilhões, notando os livros que já adoptaram o novo Acordo Ortográfico (AO).

Questionado pelos jornalistas se se adaptou à nova grafia, Cavaco recordou que o AO foi ratificado pela Assembleia da República e entrou em vigor para os serviços públicos em 2012, mas reconheceu que ainda tem algumas dificuldades em o aplicar.

"Todos os meus discursos saem com o acordo ortográfico, mas eu, quando estou a escrever em casa, tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola. Mas isso é algo privado em casa, coisa diferente é a divulgação oficial de todos os documentos da Presidência", afirmou, acrescentando que não só concorda com este AO como participou activamente na ratificação.

O Presidente entregou ainda duas bibliotecas itinerantes às autoridades timorenses e lembrou a importância que teve em Portugal este tipo de iniciativas.

No seu último acto oficial em Timor-Leste, Cavaco Silva assistiu à condecoração dos militares portugueses da GNR ao serviço da força de paz das Nações Unidas no país.

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