Design de parede: fado e a filigrana também são decoração

Dupla de designers cola cravos, galos de Barcelos, fachadas de casas típicas, telhados de Lisboa, às paredes. Pedro Andrade e Rosário Alves criaram o Dezainedeparede, uma loja "online"

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Nelson Garrido
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Andaram juntos no liceu, escolheram o mesmo curso, Design de Comunicação, da mesma universidade, Escola Superior de Arte e Design em Matosinhos, e frequentaram a mesma turma. Diploma na mão, cada um foi à sua vida, tentar a sua sorte, mas o destino não tardou a juntá-los num projecto de gostos comuns, no terceiro andar do edifício mais alto de São João da Madeira.

Há sete anos, começaram a vender papel de parede de outros, de marcas internacionais, até que perceberam que havia ali uma área por preencher, uma oportunidade a explorar. Decidiram colar alguns dos mais importantes ícones da cultura nacional no papel de parede. Pedro Andrade e Rosário Alves têm a mesma idade, 31 anos, e as suas ideias mereceram um lugar nos 30 finalistas, entre 600 candidatos, dos POPs – Projectos Originais Portugueses de Serralves. 

“Inspiramo-nos na cultura portuguesa, nos elementos figurativos que temos, quer seja no artesanato, na arquitectura, nos azulejos, na ourivesaria”, conta Pedro. Elementos reinventados, puxados para a contemporaneidade. “Pegamos no que é nosso e damos-lhe uma roupagem mais contemporânea”, especifica.

Como o que aconteceu com o galo de Barcelos, a requintada filigrana, os cravos vermelhos, o guitarrista e a fadista de um quadro de José Malhoa num fado com uma vertente mais vintage. As fachadas das casas típicas portuguesas da série Portugal "Frames" e os telhados das casas de Lisboa de "Lisbon Stripes" chamaram a atenção de Serralves, que já tem esses papéis de parede à venda na sua loja. “Não queremos só ter uma ideia gira, mas um produto nacional com qualidade e que possa competir no mercado externo”, explica o designer. 

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Os desenhos e padrões marcadamente portugueses já estão no site da dupla de designers em www.dezainedeparede.com – a primeira loja "online" de papel de parede português da cabeça aos pés. As marcas estrangeiras, dos papéis alemães, holandeses, belgas, e ingleses, também despertaram a oportunidade. “Muitas dessas marcas transportam a cultura dos seus países”. Sobretudo os ingleses. Então por que não mostrar o que há cá dentro num papel que se cola às paredes?

Dito e feito. O papel com as fachadas típicas nasceu das fotos que Pedro tirou de casas do Porto, Lisboa, Ovar e Aveiro. Cenários fotografados e sujeitos a montagem. Os telhados das casas de Lisboa foram fotografados de diversos miradouros que o designer percorreu pela capital. Depois, dentro de portas, os telhados foram alterados, reinventados e apareceram às riscas.

“Usamos a criatividade a nosso favor”. Para trás, Rosário deixou um emprego de "free-lancer" na área do desenho gráfico, estágios com direito a subsídio de alimentação e transporte. “Quando saímos da universidade, em 2002, já o mercado não estava fácil, havia coisas muito precárias”, recorda.

Juntar-se ao colega de liceu e de faculdade veio mesmo a calhar. “As coisas não acontecem por acaso”, comenta. Pois não. A dupla continua de olho nos ícones da cultura portuguesa, sem desvendar qual o próximo que poderá ser estampado num papel de parede. 

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