“Não é aceitável Portugal perder com uma equipa como a Ucrânia”

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"Vamos ter que ganhar a Nations Cup", afirma Amado da Silva Foto: Pedro Maia

Carlos Amado da Silva, presidente da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR), confessa que ficou “furioso” com a derrota da selecção nacional na Ucrânia, admite que não está satisfeito com os últimos resultados dos “Lobos” e adianta que Portugal vai apresentar a melhor equipa na Nations Cup.

O Torneio Europeu das Nações correu mal para Portugal, que perdeu quatro dos cinco jogos disputados. A que se deveu essa prestação negativa?

Houve um jogo onde tivemos uma derrota indesculpável: na Ucrânia. Conseguimos ganhar à Espanha, perdemos estupidamente com a Rússia — podíamos ter ganho por 20 pontos —, perdemos na Roménia por uns sete pontos e a derrota na Geórgia foi normal. O que não é aceitável é perder com uma equipa de quinta divisão como a Ucrânia. Qualquer clube português do meio da tabela pode e deve ganhar à Ucrânia. Foi um dia para não esquecer e meditar. Foi muito mau e houve responsabilidades de toda a gente. Não é desculpável e será tomado em conta em decisões futuras. A ausência dos melhores jogadores não é desculpa. Fiquei furioso.


Esses resultados tiveram uma consequência: Portugal está no 25.º lugar do ranking IRB, o pior de sempre. Preocupa-o?

Sim. E é por isso que vamos ter que ganhar a Nations Cup [prova que será disputada em Junho, na Roménia]. Devido a essa descida no ranking, em Novembro, em vez de jogarmos na Argentina, vamos jogar no Chile. E em vez de defrontarmos a Namíbia, vamos fazer um jogo com o Zimbabué...


Portugal vai apresentar-se na Nations Cup com a melhor equipa?

Sim, será um teste para o ataque ao Mundial 2015. E quero resultados. Vamos apostar tudo nesse torneio e vamos ter que o ganhar. É muito importante. Temos que mudar a imagem que deixámos no Torneio Europeu das Nações e melhorar a nossa posição no ranking. São aspectos fundamentais para nós.


Está satisfeito com o desempenho do seleccionador nacional, Errol Brain?

Não estou satisfeito com os resultados...


Se a primeira metade da qualificação para o Mundial correr mal, admite fazer uma mudança no comando da selecção?

Até antes. Eu quero ganhar, não quero perder... Admito tudo. O seleccionador tem contrato até Março de 2013, mas, como todos, depende dos resultados. A avaliação é constante e a Nations Cup será uma prova de fogo. Estou expectante. Após a Nation Cup ficará definido o grupo que vai fazer a qualificação para o Mundial.


Tendo, como diz, uma tendência francófona, acha que seria vantajoso para Portugal ter um seleccionador francês?

Acho (risos). Claro que acho. Até na relação com os clubes [franceses] seria vantajoso. Mas neste momento não é um cenário que se coloca.


Tomaz Morais, director técnico nacional, afirmou que, após o Mundial 2007, alguns jogadores “perderam o rumo e a humildade”. É da mesma opinião?

Se o Tomaz o diz... Na minha opinião não houve renovação e a equipa de 2007 é praticamente a mesma de 2011. Talvez o Tomaz tenha razão e isso pode ter acontecido com alguns.


Havia condições para fazer essa renovação?

Claro. Agora está a haver.


Em 2013 será disputada a primeira metade da qualificação para o Mundial 2015 e haverá ainda o Campeonato do Mundo e o Circuito Mundial de sevens. Qual é a prioridade?

A prioridade é o Mundial 2015. Haverá um grupo forte de jogadores que se vão dedicar aos sevens e que vão disputar as etapas do Circuito Mundial, onde Portugal é uma das selecções residentes. Mas na altura em que for preciso tomar uma decisão, a prioridade será a selecção de “XV”. Isso é muito claro.


O Frederico Sousa acumula os cargos de adjunto na selecção de “XV” e principal nos sevens. Como é que será feita essa gestão quando os calendários das duas equipas coincidirem?

Quando coincidir, ficará com os sevens. A federação está a estudar uma alternativa para o substituir quando estiver ausente, mas não será afastado da selecção de “XV”.


Portugal vai organizar em Julho, no Estádio do Algarve, a fase de apuramento para o Mundial de sevens. Como estão os preparativos para receber a prova?

Vai ser fantástico. Teremos 12 selecções no Algarve que vão ficar bem instaladas e queremos ter uma boa organização. Será uma grande festa, com muita animação e esperamos ter uma presença massiva das pessoas. A prova é muito importante por duas razões: para que Portugal seja apurado e para que a IRB, mais tarde ou mais cedo, traga para Portugal uma etapa do Circuito Mundial.


É possível?

Tudo é possível…


Até receber uma final europeia de clubes?

Eu gostava muito. Seria magnífico para nós.


Em 2011 Portugal venceu o Campeonato Europeu de sevens e o Mundial universitário. No entanto, optou por substituir o seleccionador. A que se deveu a saída de Pedro Neto?

Eu não substituí o Pedro Neto. Foi convidado para ficar como responsável regional do Sul e, mais tarde, responsável pela selecção olímpica de sevens. Não aceitou e nem veio falar comigo. Não tenho nada contra ele e faz falta ao râguebi nacional, mas tomou as opções dele.


Qual a importância do regresso do Sporting à modalidade?
Tem a importância que tem qualquer clube novo que surge, mas é inquestionável que pela força que o Sporting tem em termos de divulgação e promoção será bom. Se defender os interesses e valores que defendemos, e seguramente que sim, porque o râguebi do Sporting é râguebi antes de ser Sporting. Como tal, seguramente que vai ter adeptos, jogadores e dará visibilidade ao râguebi.

A chegada do Sporting pode acordar o “gigante” Benfica?
O problema do Benfica é que não tem instalações. Havia um projecto na zona de Oeiras, mas não avançou. Isso prejudicou muitos os dirigentes do Benfica que têm grande dedicação, como o João Queimado. Quando o Benfica tiver o problema das infra-estruturas resolvido, será um caso sério.

Quando tomou posse definiu como uma das suas prioridades transformar o râguebi num desporto nacional e não lisboeta. Dois anos depois, acha que isso está a ser conseguido?
Sim. Neste momento todos os distritos têm râguebi, algo que não acontecia antes. Já são 60 clubes e há sinais evidentes de grande vitalidade. Já há clubes em Braga, Guimarães, Famalicão ou Viana do Castelo, para falar no Norte. No Algarve agora há em Faro, já havia em Loulé e Vilamoura. Em Portimão e Albufeira parece que vai haver. No Alentejo há vários clubes. Em Coimbra temos a Académica e a Agrária, que está a fazer um excelente trabalho. Há a Bairrada, o Caldas…

E todos esses clubes têm condições para receber jovens?
Alguns clubes ainda não estão preparados, mas já existem muitas escolinhas de râguebi e equipas emergentes com grande potencial.

O Porto continua a ser um problema…
É muito complicado gerir o espaço no Porto. Não há espaços para jogar râguebi. O CDUP tem sérias dificuldades. Já tiveram que jogar fora do Porto muitas vezes. Agora jogam em Matosinhos. Não há campos. O Boavista tem o estádio que tem e agora tem uma equipa feminina, que também é uma das grandes apostas da federação. O râguebi feminino é muito importante para nós. Mas o Porto precisa de mais. Há muita carência de espaços físicos. É um problema grave.
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