Dois cientistas da Fundação Champalimaud ganham bolsas de um milhão

Carlos Ribeiro e Alfonso Renart receberam bolsas do Human Frontier Science Program (HFSP), um programa de uma organização com sede em Estrasburgo, que promove a ciência de ponta

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Vários investigadores da Fundação Champalimaud têm recebido financiamento internacional

Carne ou batatas, proteínas ou hidratos de carbono? Um animal que passa fome escolhe os nutrientes que mais estão em falta no seu corpo, mas como toma esta decisão é a questão que Carlos Ribeiro, da Fundação Champalimaud, quer responder. Para isso, o cientista recebeu agora uma bolsa no valor de um milhão de euros, do Human Frontier Science Program, de três anos.

Não está sozinho, Alfonso Renart, que investiga na mesma instituição como funcionam as redes neuronais que sustentam a memória de curto prazo, também recebeu a esta bolsa.

O Human Frontier Science Program (HFSP) é um programa de uma organização com sede em Estrasburgo, França, que promove a ciência de ponta. A organização começou a ganhar raízes em 1986, graças ao governo japonês, e hoje é constituída por vários países.

Uma das grandes apostas é promover a internacionalização da ciência, financiando anualmente projectos de várias equipas de países diferentes. O projecto de Alfonso Renart, por exemplo, é partilhado com a equipa de Paul Chadderton, do Imperial College de Londres, e de Sebastien Royer, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul, em Seul. 

O cientista, que na Fundação Champalimaud está à frente do Laboratório de Dinâmicas de Circuitos e Computação, quer perceber como é que funciona, em ratos, a memória de curto prazo. Ou seja, a memória que se utiliza para guardar uma informação que vai ser utilizada pouco tempo depois e, de seguida, pode ser esquecida. Uma das formas de se avaliar isto é analisar o funcionamento de grupos de neurónios (as células do sistema nervoso que estão maioritariamente no cérebro) que existem no córtex pré-frontal.

“Estes neurónios não param de disparar quando um estímulo [um barulho, por exemplo] desaparece, continuam a disparar durante o tempo em que o animal precisa de se lembrar do estímulo”, explica o investigador espanhol ao PÚBLICO.

Antes, só se tinha analisado esta actividade em neurónios isolados. Renart quer dar o passo seguinte. “Vamos medir a actividade de muitos neurónios em simultâneo, mais de uma centena, para perceber como neurónios diferentes se juntam para gerar representações de memórias de curto prazo”, revela. O financiamento vai permitir contratar pessoas para trabalharem no projecto e comprar equipamento experimental. 

O cientista espanhol recebeu o financiamento na modalidade de Jovem Investigador, para cientistas que são chefes de laboratório há menos de cinco anos. O HFSP só deu oito financiamentos destes. Já Carlos Ribeiro ganhou a bolsa programa para cientistas principais, juntamente com mais 24 projectos. 

Ao todo, candidataram-se 800 projectos ao programa e só 33 conseguiram ser financiados, o que equivale a 4,1% dos projectos. “Eu e Alfonso Renart dizíamos sempre que os dois não iríamos conseguir ganhar o financiamento”, lembra ao PÚBLICO Carlos Ribeiro, que tem pais e nome portugueses, mas nasceu e viveu na Suíça. 

Carlos Ribeiro está interessado em perceber como é que as moscas-da-fruta escolhem os alimentos em relação às suas necessidades de nutrientes. Já se percebeu que quando a Drosophila melanogaster passa por uma dieta deficiente em proteínas, depois, quando tem oportunidade, escolhe alimentos ricos nestes nutrientes - a carne em detrimento das batatas, por comparação.

Agora, o cientista que perceber o que é que se altera a nível molecular e neuronal para isso acontecer, e como é que depois esta alteração resulta em comportamentos diferentes. “Como é que a informação interna está a ser trocada com a informação externa”, resume. O projecto reúne ainda as equipas de Aldo Faisal, do Imperial College de Londres, e de Michael H. Dickinson, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

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