Salários dos presidentes do PSI-20 subiram 5,3% em 2011 apesar da crise

Os gestores ganharam, no total, 17,6 milhões de euros em 2011, sendo o seu vencimento 44 vezes superior ao salário médio dos trabalhadores das suas empresas, que desceu no mesmo período quase 11%

Num ano em que os portugueses começaram a sentir com maior impacto os efeitos da crise, os salários dos gestores das principais cotadas na bolsa de Lisboa não seguiram a tendência geral de perda de rendimentos que se verificou em 2011. As remunerações dos presidentes executivos destas 20 empresas aumentaram 5,3%, para 17,6 milhões de euros. Já a média salarial dos trabalhadores caiu quase 11%.

Os salários das administrações executivas subiram 1,7% no ano passado, ascendendo a mais de 66,6 milhões de euros - uma diferença de 1,1 milhões de euros face a 2010. A equipa de gestão que teve o maior aumento foi a da Semapa, que beneficiou de uma subida de 48,8% na remuneração total devido a um acréscimo de 112% da componente variável.

No entanto, a comissão executiva mais bem paga entre as empresas do PSI-20 foi a do Banco Espírito Santo (BES), que no ano passado auferiu um vencimento superior a dez milhões de euros. Isto porque a instituição financeira liderada por Ricardo Salgado tem uma das maiores equipas de gestão, com nove administradores executivos (ultrapassada apenas pelo BCP, com dez gestores).

Manuel Ferreira de Oliveira, presidente executivo da Galp, foi o CEO mais bem pago em 2011. A petrolífera atribui-lhe um salário total de 1,6 milhões de euros, uma subida de 22,9% em comparação com o ano anterior. Este valor inclui 267 mil euros pagos como contribuição destinada a um plano de poupança-reforma. O gestor recebeu, em média, mais de 117 mil euros brutos por mês porque, ao contrário do que sucedeu em 2010, teve direito a retribuição variável.

Porém, a maior subida de ordenado foi protagonizada por Francisco Lacerda, líder da Cimpor desde Maio do ano passado. O gestor que substituiu Ricardo Bayão Horta no cargo teve uma subida de quase 100% no salário, passando de 425 para 848 mil euros. Este aumento ficou a dever-se, também neste caso, à atribuição de prémios que, em 2010, não existiram.

De acordo com os dados recolhidos pelo PÚBLICO nos relatórios e contas das 20 maiores cotadas, o presidente com a remuneração mais baixa é Rui Cartaxo, da REN, com 317 mil euros anuais. Por outro lado, Ricardo Salgado, do BES, sofreu a maior descida de ordenado na ordem dos 35%, passando de 1,2 milhões para 801 mil euros, fruto de um corte significativo na componente variável.

Os prémios de gestão têm um peso considerável no salário total dos líderes do PSI-20, representando mais de um terço nas remunerações. Esta é uma tendência que se mantém desde o ano passado. É na Semapa que a componente variável tem maior importância na definição do ordenado: 69% do salário de Pedro Queiroz Pereira é atribuído em bónus indexados ao desempenho da empresa.

Salários desiguais

Em contraciclo com os aumentos globais dos salários dos gestores, os custos médios com o pessoal registaram uma tendência de queda. As despesas totais com as remunerações dos trabalhadores subiram 5,8%, mas como entraram mais 43 mil pessoas nestas empresas em 2011 (um aumento de 19%, justificado em larga medida com a aquisição da Oi pela PT), a média salarial diminuiu. Esta redução, que chegou a praticamente 11%, deverá estar relacionada com a contratação de pessoas com remunerações mais baixas.

Repartindo os gastos das cotadas por cada funcionário, conclui-se que estes ganharam em média cerca de 20 mil euros por ano (1400 euros por mês). Este valor representa uma descida superior a 2400 euros anuais face a 2010. Estes cálculos incluem as remunerações de toda a estrutura de pessoal e, em muitos casos, dos órgãos sociais. Além disso, quatro empresas não discriminaram as remunerações pagas aos trabalhadores nos relatórios e contas (Brisa, Sonaecom, Altri e Banif), tendo-se optado por considerar os custos com pessoal.

A empresa com uma média salarial mais baixa é a Jerónimo Martins (cerca de nove mil euros por ano), o que não poderá ser dissociado do sector onde opera, a grande distribuição. Além disso, é uma das cotadas que mais pessoas emprega (66 mil) e tem uma presença forte na Polónia, onde as remunerações são ligeiramente inferiores.

No extremo oposto está a Mota-Engil, com vencimentos médios acima de 95 mil euros, o que poderá estar relacionado com o facto de integrar na sua estrutura quadros qualificados e de ter muitos expatriados. A empresa que mais cortou no salário por funcionário foi a PT, com uma redução de 29,5%. A operadora ocupa esse lugar porque nestes cálculos está reflectida a compra da brasileira Oi, que fez disparar o número de trabalhadores para mais de 72 mil, quando empregava cerca de 33,5 mil em 2010. E, no Brasil, os salários são mais baixos.

Contas feitas, os presidentes das 20 cotadas do PSI-20 ganharam, em média, 44 vezes mais do que os trabalhadores. Em 2010, esse diferencial tinha sido de 37 vezes. Mais uma vez, a inclusão da Oi nas contas da PT influencia esta evolução. Em Espanha, segundo dados publicados ontem pelo El País, os presidentes das empresas que compõem o Ibex, o principal índice da bolsa de Madrid, ganharam em 2011 mais 24,7 vezes do que a média dos trabalhadores. O hiato era de 25,5 vezes em 2010.

Nos EUA, segundo um estudo publicado este mês pelo Economic Policy Institute, os CEO das 350 maiores empresas ganham 231 vezes mais do que a média dos seus trabalhadores. Warren Buffett é a este nível uma excepção, com o seu salário na Berkshire Hathaway a ser dez vezes superior ao da média dos seus funcionários.

Em Portugal, foi na PT que existiu a maior disparidade, já que o responsável máximo da operadora, Zeinal Bava, recebeu 127 vezes acima dos seus funcionários. Em 2010, antes da consolidação da Oi, a diferença era de 94 vezes.

A Mota-Engil e a REN são as empresas com mais equilíbrio remuneratório, pagando aos seus líderes sete vez mais do que à média dos seus funcionários. Isto porque, no primeiro caso, a massa salarial por trabalhador é a mais elevada do PSI-20, enquanto na única empresa pública cotada na bolsa de Lisboa os vencimentos dos gestores são os mais baixos de todos.

Sugerir correcção