Reserva do Estuário do Douro entrou na rede nacional de áreas protegidas

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A reserva, junto às cidades do Porto e de Gaia, é zona de paragem de aves migratórias nelson garrido

Director do Parque Biológico de Gaia assinalou a conclusão da instalação do parque natural com lançamento de guia

A Reserva Natural Local do Estuário do Douro passou a integrar a rede nacional de áreas protegidas. A notícia já chegou às mãos do responsável pelos parques de Gaia, Nuno Oliveira, na semana passada, que fez questão de a guardar até ontem, quando apresentou o guia deste espaço junto ao Cabedelo, na margem sul do Douro. "É o reconhecimento da importância nacional deste local", uma "estação de serviço fulcral" para milhares de aves, afirmou.

Grande responsável pela criação de uma área de protecção da vida selvagem nesta área sensível do Grande Porto, Nuno Oliveira era ontem um homem feliz. Há cinco anos, deixava para trás mais de duas décadas de esforços para tentar convencer as autoridades locais e nacionais (a zona é de gestão portuária, e tudo o que aqui aconteceu entretanto teve o empenho da APDL - Administração dos Portos do Douro e Leixões) e iniciou este projecto. A área, hoje com cerca de 60 hectares, foi sujeita a limpezas e a acções de renaturalização, construíram-se abrigos para a observação de aves com apoio de fundos europeus e promoveu-se o estudo da área.

Faltava um guia, que chegou ontem, fresquinho, 160 páginas cheias de informações sobre as aves que por ali andam, algumas residentes, a esmagadora maioria migradoras e umas quantas meras diletantes, que apenas passam pela faixa entre marés do Cabedelo, onde não falta vida para uma boa refeição. Há as que vêm de longe, como o pilrito de colete, habituado à tundra do Nordeste da Ásia, e espécie muito rara em Portugal. Há as que têm um elevado estatuto de protecção, como o tartaranhão-ruivo-dos pauis, que passa pelo Cabedelo do Douro a caminho do Sul, e até flamingos, por uma vez observados, em 2010. Ao todo já foram contadas na área da reserva 206 espécies, metade das que foram identificadas no país.

A fama do sítio vem de longe. Nuno Oliveira fez questão de lembrar a importância que já lhe dava William Tait, negociante de origem inglesa e naturalista amador que, a partir do Porto, se correspondia com Charles Darwin. Está tudo contado no guia, no qual também se recorda que, ao nível da flora, a silene-do-porto (Silene portensis) foi por aqui recolhida em 1751 por um estudante de botânica, um desconhecido Pehr Lofling, que a enviou para o seu professor, um outro sueco bem mais conhecido que dá pelo nome de Lineu, o criador do sistema de classificação científica das espécies que ainda hoje em uso.

O Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro é essencial para quem pretenda conhecer a fauna, a flora e a forma como o vaivém da água mais ou menos salgada vai criando nos vários habitats condições para o seu desenvolvimento. Mas agrega ainda informações sobre a geomorfologia do local, a arqueologia e a história desta zona de Vila Nova de Gaia, abarcando a vizinha comunidade piscatória da Afurada. Até final do ano, aí será inaugurado o centro interpretativo do património local, com forte ligação a este parque natural, em colaboração com a APDL, anunciou Nuno Oliveira.

Nesta fase do ano, há poucas aves na reserva, praticamente entregue às residentes, em fase de nidificação. "É o momento menos interessante para os observadores", admite Nuno Oliveira. Após a época de Verão, milhares hão-de parar neste "ponto de apoio, essencial para o reabastecer de energias, com a alimentação, e para o descanso, em viagens de milhares de quilómetros". Na costa portuguesa, áreas como a ria de Aveiro e da foz do rio Minho, em Caminha, desempenham funções semelhantes.

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