Plantas estão a florir mais cedo do que dizem os modelos climáticos

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As plantas estão a florir cinco a seis dis mais cedo por cada grau de temperatura a mais Ali Jarekji/Reuters

Os modelos científicos não estão a ser capazes de prever o real impacto das alterações climáticas nas plantas, que florescem mais cedo do que o estimado, diz um estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica britânica Nature.

Há mais de 20 anos que os cientistas simulam como vão as plantas responder às alterações climáticas. Esses estudos têm concluído que as plantas começam a dar folhas e flores entre 1,9 e 3,3 dias mais cedo por cada grau de aumento da temperatura. Mas, segundo o estudo da Nature, os números são mais elevados na realidade, na ordem dos 5 a 6 dias.

Estes resultados baseiam-se na comparação entre experiências em 1634 espécies de plantas e as observações a longo prazo dessas espécies na natureza, que foram realizadas por 22 instituições nos Estados Unidos, Canadá, Suécia, Suíça e Reino Unido.

“Até agora, partíamos do princípio de que os sistemas experimentais respondiam da mesma maneira do que os sistemas naturais. Mas não é o caso”, disse em comunicado o co-autor do estudo, Benjamin Cook, do Observatório da Terra Lamont-Doherty na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

Os métodos experimentais poderão estar a falhar porque reduzem a luz, o vento e a humidade do solo, o que influencia a maturidade das plantas, refere o estudo. Como exemplo, os investigadores exemplificam que a floração das cerejeiras em Washington é hoje uma semana mais cedo em relação aos anos de 1970.

“Isto significa que as alterações previstas nos ecossistemas, incluindo Primaveras mais precoces em grande parte do planeta, podem ser muito maiores do que as actuais estimativas, baseadas em experiências”, disse Elizabeth Wolkovich, da Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, uma das autoras do estudo.

Para Elizabeth Wolkovich, imitar a natureza é muito mais difícil do que se pensa. Por exemplo, a equipa responsável pelo estudo descobriu que, em alguns casos, o uso de câmaras de aquecimento para aumentar as temperaturas artificialmente pode ter o efeito contrário. “No mundo real não vemos mudanças na temperatura; vemos mudanças na precipitação e nos padrões das nuvens e outros factores. Estamos muito, mas muito longe de conseguir replicar as alterações nas nuvens”, disse à BBC.

“Acho que nunca vamos imitar a natureza na perfeição. Mas acredito que podemos fazer muito melhor.”

Prever as respostas das plantas às alterações climáticas tem consequências importantes para o abastecimento de água às populações humanas, para a polinização de culturas e o bem-estar geral dos ecossistemas, lembram os investigadores.

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