Os licenciados em Portugal não são o problema

De que forma o nível de ensino pode ser um prejuízo para a nação? Sinceramente, ainda não compreendi

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Fernando Veludo / nFACTOS

Diversas vezes se ouve, hoje em dia, que qualquer um é formado! É verdade, o número duplicou nos últimos dez anos. Indo mais longe, no início da década de 90 eram cerca de 284 mil os licenciados. Actualmente, ultrapassam o milhão, equivalendo a 12% da população residente. Não é qualquer um, mas quase. Ainda assim, de alguma forma, assusta-me o nível depreciativo com que essa afirmação é feita vulgarmente.

De que forma o nível de ensino pode ser um prejuízo para a nação? Sinceramente, ainda não compreendi. Qualquer pessoa que invista na sua formação terá, legitimas, ambições de atingir patamares superiores, mas também não vejo nenhumas a recusarem o início de carreira em patamares inferiores. Vejo sim, muitas desesperadas por não conseguirem iniciar carreira no que for. Pergunto, apenas, se quando se utiliza esse timbre pejorativo para alegar que qualquer um é formado se quer dizer que se não o fossem o país estaria melhor?Eu não acredito.

É verdade que o número de licenciados tem vindo a aumentar, mas não será numa proporção lógica ao aumento do desemprego? Fazendo o mesmo paralelo do primeiro parágrafo: no início da década de 90 a taxa de desemprego era de 4,6%, actualmente situa-se próximo dos 11%. Será problema dos licenciados? Mais uma vez, não acredito.

Eu penso que essa vulgar tese é colocada de uma óptica errada. Coloca-se a questão assente nos estudantes, quando o problema é conjuntural; é da quebra da economia. Ninguém pretende ser desempregado, mas a ser é natural que seja preferível sê-lo com outras perspectivas, com outras ambições.

O aumento do nível de instrução da população, das gerações actuais, faz com o que o fenómeno de emigração, que se repete largos anos depois, seja assente numa base dissemelhante. Hoje, quem sai em busca de melhores oportunidades, sai preparado de uma forma notada, alavanca-se para possíveis carreiras de sucesso no estrangeiro. Não formulo uma regra nesta afirmação, realço apenas um padrão.

Com tudo isto, pretendo afiançar que não se deve ver no aumento do número de licenciados um problema a ser resolvido, pelo contrário, deve existir uma preocupação para que a tendência se mantenha. Uma pessoa com formação superior pode exercer uma função em qualquer tipo de quadro, uma pessoa sem formação não pode exercer em muitos quadros. Logicamente, que saberei que qualquer pessoa com formação não pretende, ou tem como objectivo, deixar-se manter num quadro inferior, mas não será isso um impulsionador? Uma alavanca económica?

Termino com estas questões e com a certeza que o nível de formação e cultural nunca será um problema para Portugal, ou para qualquer outra nação.

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