Profissionais alertam para a ilusão dos “books fotográficos”

Muitos jovens, atraídos pela promessa de ofertas de emprego, querem ter um "book" fotográfico. Cuidado, alertam os profissionais. “É tudo uma política enganadora"

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Ingmar Zahorsky/Flickr

Os "books" fotográficos estão na moda pelas promessas de ofertas de emprego, mas, segundo profissionais de diferentes áreas, criou-se um mundo de ilusão que atrai adolescentes cada vez mais jovens. Um "book" permite a qualquer pessoa ter um álbum de fotografias criadas e trabalhadas de forma original por profissionais. É a partir dos 15 anos que os interessados, sobretudo raparigas, apostam nesta rampa de lançamento, dentro e fora do universo da moda.

“As pessoas procuram cada vez estes serviços para fins profissionais, para expor na Internet ou noutro sítio qualquer. É um pouco aquela ilusão do ‘caça talentos’”, diz à Lusa Albertino Gonçalves, sociólogo de estilos de vida. Segundo o especialista, a sociedade é cada vez mais exigente no que respeita à imagem e acredita que, “ao mostrarem-se belas, [as pessoas] têm vantagens para conseguir um bom ‘feedback’”. “A imagem deixou de ser espontânea para passar a ser mecânica, como se vê nas redes sociais”, refere.

Ângela Alves tem 20 anos e já fez um "book". A jovem lamenta que o trabalho não lhe tenha aberto portas a nível profissional, mas não exclui a hipótese de “repetir a experiência”, pois admite que gosta muito de ser fotografada. Daniela Moreira, 19 anos, diz que o "book" também não lhe tem trazido vantagens: “Bem gostava que me desse oportunidades no futuro.”

Para o director da agência de modelos Central Models, António Romano, criou-se “um mundo imaginário” através da Internet e da televisão, fazendo com que os adolescentes “sonhem com o mediatismo”. Já Carlos Moreira, gerente da empresa de fotografia e vídeo Carfoto, não tem dúvidas: “É tudo uma política enganadora para mobilizar os jovens. Iludem as pessoas e isso vê-se nos anúncios dos jornais. Todos querem cinco minutos de fama.”

Na rede social Facebook são inúmeras as páginas que oferecem oportunidades para entrar no mundo da moda, como é o caso da página Jovens Modelos, que soma mais de três mil seguidores e propõe aos seus "fãs" colocar fotografias naquele espaço para irem a concurso. A Lusa contactou uma das vencedoras e a jovem, de 14 anos, confessou que a iniciativa não lhe trouxe qualquer vantagem, apesar de querer ser modelo profissional.

Quanto custa um "book"?

Os interessados podem obter um trabalho fotográfico editado por apenas 25 euros. A qualidade e a produção dependem do que o cliente pretende e inflacionam o preço — uma grande produção pode chegar aos 800 euros. No entanto, com o aumento do mercado e da procura, cada vez mais as empresas/profissionais estão a adaptar-se a esta realidade, criando "packs" promocionais, como foi o caso de Fernando Tavares. “Actualmente peço 180 euros por um 'book' profissional, mas também faço promoções. Quando tenho pedidos de clientes que apenas querem ter uma experiência, cobro entre 40 a 60 euros. Também faço 'books' a 25/30 euros para nos adaptarmos à situação financeira dos clientes e conseguir trabalho”, revela.

Vários profissionais afirmam que realizam entre dois a cinco "books" por mês, mas os que oferecem um preço mais baixo dizem conseguir ainda mais produções: entre quatro a oito sessões por semana. O fotógrafo "freelancer" Hélio Andrade defende que as ofertas baratas “estragam o mercado, porque quando os clientes que fizeram trabalhos por preços baixos vão ao encontro de empresas [de maior dimensão] sentem-se enganados quando estas lhes apresentam o valor real de um 'book'”.

Alguns profissionais acreditam que os fotógrafos que pedem menos de 50 euros não conseguem cobrir os custos da produção. No entender do fotógrafo Paulo Costa “deveriam receber entre 150 a 200 euros por cada serviço, devido a todo o trabalho que exige". "Normalmente uma fotografia demora uma hora a ser editada, o que exige muito do profissional”, refere. A modelo Diana Pereira defende que, para quem quer seguir o mundo da moda, fazer um "book" por baixo custo “não é uma opção”. Por isso, aconselha às adolescentes interessadas a fazerem um 'casting' nas agências de modelo, já que, se houver interesse, a “própria agência pagará o 'book'”.

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