Os Sétima Legião voltam a reunir-se para concertos 30 anos após o início

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Em cima, os Sétima Legião, hoje, antes da minidigressão. Em baixo, na altura do álbum De Um Tempo Ausente (1989) DR

Um dos grupos portugueses mais marcantes dos anos 80 e 90, os Sétima Legião, regressam para uma minidigressão com início amanhã, na Casa da Música, no Porto. Pelo meio são reeditados todos os álbuns

Nos primeiros anos da década de 80 a militância, em torno da música, reinava em Lisboa. Na rádio ouvia-se o Rolls Rock de António Sérgio. À noite ia-se ao Bairro Alto. Na roupa mimetizava-se Ian Curtis dos Joy Division. Os ecos de Inglaterra chegavam através dos textos de Miguel Esteves Cardoso. E na Avenida de Roma, Rodrigo Leão (baixo e teclas), Pedro Oliveira (voz e guitarra) e Nuno Cruz (bateria) ensaiavam, ambicionando estrear-se no Rock Rendez-Vouz.

Agora, 30 anos depois, os três fundadores dos Sétima Legião, em conjunto com os restantes membros do grupo (Gabriel Gomes em acordeão, Paulo Marinho em gaita-de-foles, Ricardo Camacho nas teclas, Paulo Abelho nas percussões e Francisco Menezes, letrista e coros) regressam para duas grandes apresentações (Casa da Música, amanhã, e Coliseu de Lisboa, a 4 de Maio), inseridas numa digressão de 10 datas. Depois voltarão aos seus afazeres. Leão, Gomes e Abelho, de formas diferentes, continuam ligados à música, mas Camacho é médico, Oliveira advogado e Menezes, diplomata, é agora chefe de gabinete de Pedro Passos Coelho.

Desde o lançamento do último álbum, em 1999, nunca deixaram de actuar em conjunto, em concertos semiprivados, mas agora é outra coisa. "Existe algum nervosismo", diz-nos Oliveira, "até porque algumas pessoas, como eu, não têm tocado ao vivo. Mas começámos a ensaiar com mais intensidade há três meses e vamos ser rigorosos."

O pretexto para o retorno é a celebração de 30 anos de carreira, mas a hipótese estava em cima da mesa há anos. "Este foi o ano em que a agenda das pessoas permitiu que pensássemos em algo deste género", resume, "embora assumamos que é apenas isto que queremos fazer." Regravar temas antigos ou criar originais não está no seu horizonte. "É improvável, mesmo que esta digressão desencadeasse enorme entusiasmo, porque a carreira de cada um de nós deixa muito pouco espaço para isso."

Nos concertos vão respeitar ao máximo a génese das canções. "Não me revejo naquelas reuniões de bandas que depois optam por criar novos arranjos", assume. Não haverá grandes alterações, a não ser as decorrentes da passagem do tempo, nomeadamente o facto de hoje existir maior apuro técnico. "Tornámo-nos melhores músicos, por isso vamos fazer as coisas com exigência, sem perdermos a alegria despreocupada que sempre tivemos."

Paralelamente aos concertos, vai ser reeditada a obra completa e uma antologia de temas emblemáticos, Memória, constituída por um CD e um DVD, que inclui a gravação de um concerto no Pavilhão Carlos Lopes em Dezembro de 1990.

O grupo deixou um traço vincado na produção dos anos 80 e 90, pela forma como aliaram o espírito pós-punk internacional com as raízes portuguesas, mas foram os três primeiros álbuns - A Um Deus Desconhecido (1984), Mar D"Outubro (1987) e De Um Tempo Ausente (1989) - que acabaram por deixar mais marcas. Pelo menos, serão esses que estarão em maior evidência nos concertos.

"A essência da nossa música - uma mistura de dimensão etérea, com canções com muito espaço - já estava presente no primeiro álbum e são muitos desses temas que as pessoas continuam a ouvir."

Regressemos à Av. de Roma, há 30 anos. Oliveira e Leão têm pouco mais de 15 anos e nenhum deles se sente muito apto para ser vocalista. Depois de procurar, chegam à conclusão que terá de ser um deles a assumir o microfone. Fica o que tem a voz mais grave, Oliveira. "Nunca fui um cantor no sentido essencial, mas, até desse ponto de vista, funcionávamos como um verdadeiro grupo de amigos, porque não havia ninguém que se destacasse", diz. Agora os amigos voltam a reunir-se à volta dos concertos.

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