Spectrum, aquele ruído não se esquece em 30 anos

O ZX Spectrum faz 30 anos. Preto, teclas de borracha, muitas letras e pequenas palavras num inglês que mal conhecia. E as cassetes, que barulheira

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Ficamos velhos de cada vez que fazemos anos. A menos que o aniversário não seja o nosso, mas de algo que nos atira para trás, tipo máquina do tempo. Um ZX Spectrum, hoje, é isso mesmo. Uma máquina a atirar-nos para um tempo em que os computadores eram ainda (quase) uma miragem.

Para mim, muito mais num lugar como as minhas Caxinas, onde, excluindo os donos da única farmácia da terra – desconfio, com a autoridade de um puto então com menos de dez anos numa comunidade de pescadores – ninguém saberia o que era isso. Foi a sorte de ser o melhor amigo do filho mais novo daquela gente que viera de fora que me pôs na rota desses objectos raros.

Nunca tive um, mas lembro-me dele como se ainda estivesse no “meu” sótão. Preto, teclas de borracha, muitas letras e pequenas palavras num inglês que mal conhecia. E as cassetes, que barulheira. Quando hoje, na "dock" que tenho ao lado desta folha do "word" em que escrevo, ponho um jogo a “correr” com um simples toque, uso um verbo que, naqueles dias, se me tornou familiar em informática. Pôr o jogo a correr implicava pôr uma cassete a correr – largos minutos às vezes – numa velocidade que não nos tirava a paciência, mas que hoje era capaz de deixar qualquer miúdo habituado às PSP com os nervos em franja.

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O ruído nunca me desapareceu da memória, e as aplicações para "smartphones" ou a Internet, num dos vários emuladores disponíveis "online", estão ai para o perpetuar. Fui à procura deles quando o Amílcar Correia, director do P3, me desinquietou a folga para vir a esta festa. E na era em que o retro é "fashion", somos bem capazes de perdoar aqueles gráficos manhosos, de um Chuckie Egg – perdi três vezes enquanto não me lembrei de que teclas usar – ou de um Daley Thompson’s Decatlhon, só para celebrar uma infância longínqua.

Ao meu lado, a Raquel David, que, ainda nem chegada aos quatro anos, julgará que sempre existiram o iMac, o iPad ou o iPhone e os seus jogos de uma qualidade gráfica incomparável, atura-me uns minutos a tentar apanhar ovos, até se aborrecer e pedir para ver mais um episódio da sua série favorita do momento: "Conan, o Rapaz do Futuro". Um excelente trabalho de desenho animado do japonês Hayao Miyazaki, que a RTP passou nesses inícios de 80 e que remete para um tempo após uma guerra mundial que se passaria em 2008, o ano em que ela nasceu. Há passado que me deixa mesmo mais novo. E assim partilhado, apetece mesmo festejar. Vai um joguinho?

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