Miguel Cadilhe: “Não deveríamos ter entrado para o euro”

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Cadilhe diz que este Governo “não tem pano para mangas” Jonas Batista/arquivo

Portugal não deveria ter entrado na “união monetária e na moeda única”. Este foi um dos erros estruturais cometidos nos últimos 20 anos e que se revelaram pesados para o país, segundo o antigo ministro das Finanças, Miguel Cadilhe.

Foi um “erro histórico” entrar no euro. “Avisei que, com a moeda única, iríamos ter mais défices externos, menos PIB efectivo, menos PIB potencial, menos emprego. Chamaram-me eurocéptico e outros mimos que me colocavam a nadar contra-a-corrente”, lembra Miguel Cadilhe em entrevista publicada hoje no jornal i.

“Não deveríamos ter entrado para o euro, hoje não devemos sair”, sublinha porém o antigo titular da pasta das Finanças de Cavaco Silva, apontando ainda outros erros do passado e que hoje se reflectem na vida do país. Houve “enormes gastos públicos”, com decisões como a Expo 98 ou o Euro 2004, e ainda a “escalada da dimensão corrente e primária do Estado”.

Questionado sobre o que estará a impedir o Executivo de Passos Coelho de avançar com medidas que estimulem agora o crescimento da economia, Cadilhe diz que “o Governo não tem pano para mangas”. “Uma política de relançamento e crescimento tem de ser financiada, ora nós estamos prisioneiros de uma prisão financeira, a cumprir pena que em grande parte merecemos”, defende, acrescentando que “a locomotiva do nosso crescimento não poderá ser interna”.

O ex-ministro comenta também a forma como estão a ser distribuídos os “sacrifícios” entre os portugueses em plena crise económica e cumprimento de medidas de austeridade e fala na necessidade de “justiça”. “Acho que têm faltado o que chamo ‘contrapesos’ sociais, digo medidas para contrapesar as medidas de austeridade aos olhos dos relativamente ou subjectivamente mais sacrificados”.

Cadilhe diz que o país deve ponderar sobre medidas penalizadoras para a população como “[...] profundos cortes da despesa pública; reconceituações e contenções do Estado social; aplicações generalizadas da regra utilizador-pagador; aumentos de tarifas de muitos serviços públicos; agravamentos de impostos ordinários sobre consumo, rendimento e património; subida do desemprego; e várias outras decorrências dos programas de ajustamento da troika que estão a ser executadas”.

Notícia corrigida às 13h47:

No último parágrafo dizia-se que Cadilhe apontava como solução um conjunto de medidas como profundos cortes de despesa, quando o entrevistado sustenta que essas medidas devem ser ponderadas como razão das dificuldades.

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