FMI diz que Portugal só terá sucesso se resolver “problemas estruturais profundos”

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Poul Thomsen é contra o foco apenas na "consolidação orçamental e desalavancagem financeira" Foto: Hugo Correia/Reuters

Poul Thomsen, responsável do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou que o programa de ajuda externa a Portugal, que dirigiu, e o da Grécia, só terão sucesso se ambos os países resolverem os seus “problemas estruturais profundos”.

“Não deve haver dúvida que estes programas, particularmente da Grécia e de Portugal, [países] que têm problemas estruturais profundos, vão falhar se forem só de consolidação orçamental e desalavancagem financeira”, disse Thomsen, em Washington, numa conferência do FMI sobre os três programas de ajuda externa na zona euro. “Só vão ter sucesso com reformas estruturais para lidar com o problema de competitividade. É o assunto chave para estes países no futuro”, adiantou. Os riscos são “significativos”, referiu, mas o FMI está “pronto para trabalhar com estes países e adaptar estes programas consoante circunstâncias evoluírem”.

Em relação à Grécia, sublinhou que os dois principais partidos estão a apoiar o programa, uma “grande mudança” em direcção a uma desejada “revigoração das reformas estruturais”, mas assumiu que as próximas eleições “serão um teste ao apoio ao programa” de ajuda externa. Disse ainda ter dúvidas de que o programa grego tenha sucesso “se não houver uma melhoria significativa da administração fiscal” e que, se estas não acontecerem, o país poderá “ser forçado a cortes muito duros nas transferências sociais”.

Sobre o regresso de Portugal, Grécia e Irlanda aos mercados, Thomsen reconheceu que “obviamente existe incerteza” em relação à data prevista, mas salientou que os líderes europeus, de forma “sem precedentes”, já se disponibilizaram para apoiar estes países “o tempo que for preciso para os levar de volta ao mercado, desde que haja progressos ao abrigo do programa”. Thomsen defendeu ainda que o “mix de políticas” proposto pela “troika” (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) para estes países “evitou políticas demasiado pró-cíclicas e desalavancagem excessiva”, que poderiam ter agravado a crise.

Reza Moghadam, director do Departamento Europeu do FMI, considerou “muito úteis” as medidas do Banco Central Europeu para assegurar necessidades financiamento bancário na zona euro, incluindo nos três países-programa. “Os nossos parceiros europeus mostraram que estão prontos para tomar as medidas necessárias. Não tão rápidas como o desejado, mas mudanças as mudanças do EFSF [fundo europeu de estabilização], que indirectamente afectam estes países, foram importantes”, disse.

Em relação às medidas defendidas na quinta-feira pela directora do FMI, Christine Lagarde, para virar o EFSF para a recapitalização da banca, Moghadam sublinhou que tal “podia ajudar”, mas que “é preciso apoio vasto na Europa para serem implementadas”.

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