Boaventura Sousa Santos vai à Tate falar sobre o "drama" da Europa

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Boaventura Sousa Santos terá consigo três convidados

No dia 28, o sociólogo, discutirá em Londres a incapacidade de a Europa aprender com o resto do mundo

A Europa não sabe aprender com o resto do mundo. É o que dirá o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, um dos vários intelectuais mundiais convidados para organizar uma sessão de debate na Tate Modern, em Londres, no dia 28 de Abril. Na sessão, intitulada Espaços de Transformação: as Epistemologias do Sul, o sociólogo pretende demonstrar que "o grande drama da Europa é não ter muito que ensinar e aprender pouco com o resto do mundo".

Ao PÚBLICO, Boaventura Sousa Santos explicou que "há um sentimento de exaustão de alternativas transformadoras na Europa" e que é preciso procurar práticas políticas alternativas, que integrem conhecimentos filosóficos, científicos e culturais de outros países.

O projecto Reinvenção da emancipação social, a que se dedica desde 2000 e que já permitiu a publicação de quatro livros, tem levado o sociólogo a reflectir sobre a realidade de países como a Índia, a África do Sul, Moçambique, o Brasil e a Colômbia. É essa experiência de trabalho de campo que tem vindo a desenvolver que quer explorar na sessão do museu de Londres, um dos mais conhecidos e visitados do mundo. Boaventura Sousa Santos proporá à plateia "uma alternativa às tradições eurocêntricas", criticando uma Europa que revela cada vez maior incapacidade de aprender com os países do Sul.

O sociólogo e professor na Universidade de Coimbra convidou para o acompanharem a psicanalista e crítica de arte brasileira Suely Rolnik, o sociólogo e antropólogo indiano Shiv Vishvanathan e o curador de arte sul-africano Sarat Maharaj. Com eles, Boaventura Sousa Santos quer discutir não só "o sentimento de esgotamento de alternativas para problemas que a Europa hoje enfrenta", mas também a forma como o contexto internacional de crise financeira acentua esse sentimento, bem como "a incapacidade de os europeus aprenderem com outros povos".

Globalização e preconceito

Esquivo quanto a se falará sobre o caso particular de Portugal nesse contexto de crise, Boaventura Sousa Santos diz apenas que "a crise na Europa será um dos pontos a discutir", até porque há uma mensagem de "inevitabilidade" das políticas que têm sido seguidas e que é preciso ajudar a desconstruir. Tal como há "um preconceito" europeu que, defende, "tem as suas raízes no colonialismo" e que é preciso abandonar. Convicto de que há "sementes de transformação noutros espaços fora da Europa" e de que a compreensão do mundo actual excede a visão ocidental do mundo, escolheu três personalidades do universo académico e artístico para reflectirem, em 25 minutos, sobre o que são as experiências do Sul. "Não é uma escolha de pessoas, é a escolha de perspectivas diferentes", diz sobre os seus convidados.

Boaventura Sousa Santos, que tem dedicado a sua obra a trabalhos sobre a globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos, quer fazer da palestra de dia 28 uma oportunidade para a "abertura da civilização à diversidade intelectual, política e filosófica".

O sociólogo coordena desde 2000 o projecto de investigação financiado pela European Research Council ALICE - espelhos estranhos, lições imprevistas, cujo objectivo é definir, em conjunto com outros 12 investigadores - e com uma bolsa de investigação que ascende aos 2,4 milhões de euros - "como é que a Europa pode aprender da experiência do mundo". O projecto centra-se na Índia, Equador, África do Sul, Bolívia e Brasil.

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