Católica prevê que Portugal continue em recessão em 2013

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Portugal deverá enfrentar em 2012 o segundo ano consecutivo de recessão Foto: Adriano Miranda

Com a previsão até agora mais pessimista sobre o comportamento da economia portuguesa no próximo ano, o Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica aponta para uma contracção do PIB de 0,9% em 2013. Mas este é um cenário que tem um grau de incerteza elevado, admitem os especialistas, porque a evolução da actividade não depende só de factores internos, nem apenas económicos.

O cenário de prolongamento da recessão por mais um ano que os especialistas do NECEP descrevem hoje na sua folha trimestral de conjuntura é mais pessimista do que qualquer previsão do Banco de Portugal, do Governo ou da troika.

O núcleo de estudos é, aliás, a única entidade que aponta para uma contracção da actividade no próximo ano. A confirmarem-se estas previsões, Portugal estará em recessão durante três anos consecutivos (o PIB caiu 1,6% em 2011 e todas as previsões para este ano apontam para uma forte contracção).

“Apesar da invulgar incerteza que acompanha esta previsão, ela decorre da necessidade de consolidação orçamental adicional neste ano, dum prolongar das dificuldades de financiamento e ainda de um efeito base significativo”, explica a instituição na síntese trimestral.

Nas últimas previsões de Primavera (Março), o Banco de Portugal calcula uma estagnação do PIB no próximo ano, já com um crescimento na segunda metade de 2013. A troika tem, na última revisão do programa de ajustamento (Abril), as estimativas mais optimistas – as mesmas do Governo português –, apontando para um ligeiro crescimento, de 0,3%. Tem sido este o cenário com o qual o Governo diz estar a trabalhar, mensagem que tem sido repetida por Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira.

O NECEP nota, no entanto, que as suas previsões “permanecem envoltas num grau de incerteza excepcionalmente elevado, dependendo inclusive de eventos não estritamente económicos”.

Para este ano, a previsão difere em apenas uma décima do valor do PIB estimado pela troika, sendo que, neste caso, são o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) quem prevê uma quebra maior do PIB (3,3% contra 3,2% estimada pelo NECEP).

Embora continue a prever uma “forte recessão”, a estimativa do NECEP melhora em relação ao valor apontado em Janeiro (uma contracção do PIB de 3,4%). A variação, explicam os especialistas, deve-se à “envolvente externa, agora um pouco aliviada”.

À parte disso, os riscos nacionais centram-se “na eventual necessidade” de o Governo ter de tomar novas medidas de correcção orçamental e das restrições de crédito à economia, mas também da envolvente externa. Neste caso, afirmam os académicos, tem influência o “empenhamento político dos governos no projecto do euro”. E, em particular, as presidenciais francesas são uma dificuldade acrescida, por causa do grau de incerteza que causam quanto ao “actual enquadramento orçamental do euro”.

O candidato socialista François Hollande, favorito nas sondagens à vitória na segunda volta das eleições, a 6 de Maio (a primeira volta é no próximo domingo), elegeu como uma das suas bandeiras a renegociação do pacto intergovernamental para a estabilidade do euro, o que implica a reabertura do tratado (já ratificado por Portugal).

Ainda no contexto de dúvida sobre a trajectória das economias na zona euro, o NECEP considera que a intervenção do BCE com as duas grandes operações de concessão de liquidez aos bancos (com empréstimos baratos a três anos) foi positiva, mas alerta que a sustentabilidade do quadro financeiro europeu “é um elemento central da incerteza”.

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