A triste Primavera do Benfica

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Podemos olhar para a segunda volta ou apenas para o que já se disputou do último terço da I Liga de futebol. A conclusão é sempre a mesma: o Benfica foi quem teve pior desempenho entre os quatro primeiros da classificação. Após a derrota em Alvalade e o mais que provável adeus às esperanças de chegar ao título, impõe-se uma questão na ordem do dia da actualidade da Luz. Como evitar a quebra de rendimento na fase decisiva da temporada?

Mais do que discutir a intensidade do contacto da mão de Luisão com no pescoço de Van Wolfswinkel ou a barreira psicológica dos árbitros quando se trata de marcar penaltis no primeiro minuto, o verdadeiro debate sobre a desilusão benfiquista tem de se centrar na incapacidade da equipa para resistir à erosão do tempo e do esforço. Uma coisa são as vicissitudes de cada jogo, outra, bem diferente, são as tendências. E o Benfica de Jorge Jesus parece apontar para uma constante: apesar dos investimentos no mercado e do reforço da equipa (que terá, muito provavelmente, o melhor banco de suplentes da I Liga), a chegada da Primavera não traz alegrias.

Se a classificação actual fosse baseada apenas nos resultados já apurados da segunda volta (a partir da jornada 16), o Sporting de Braga estaria na frente, com 27 pontos (nove vitórias, nenhum empate, duas derrotas). Um início de época titubeante e o facto de as duas – recentes – derrotas terem acontecido perante os rivais directos explicam o actual terceiro lugar dos minhotos. Contabilizando apenas os onze encontros da segunda metade da prova, o FC Porto ocuparia a segunda posição, com 26 pontos (8v/2e/1d), enquanto o Sporting somaria 22 (7v/1e/3d). O Benfica somaria apenas 20 (6v/2e/3d).

Se apertarmos um pouco mais o crivo, cingindo-nos às jornadas já disputadas do último terço da Liga (da 20.ª em diante), então o FC Porto já aparece na frente (17 pontos), seguido de Braga e Sporting (ambos com 15). Nos últimos oito jogos, o Benfica somou apenas 11 pontos, com um índice de aproveitamento bem pobre: três vitórias, dois empates, duas derrotas.

Na Luz, há de tudo um pouco. Um posto, o de lateral-esquerdo, monopolizado por um jogador vulgar (Emerson) e afectado pelas críticas. Um futebolista genial – Gaitán – a quem os elogios de Alex Ferguson só fizeram mal (o jovem argentino precisa que lhe expliquem que as estátuas, apesar do talento do artista, só brilham porque são colocadas em cima de um pedestal; e o pedestal é feito de pedra, tijolo, argamassa; enfim, trabalho...). Há ainda opções no banco pouco ou mal utilizadas (Matic, Capdevila, Ruben Amorim – que entretanto saiu), mistérios de sub-rendimento (Saviola), desaparecidos em combate (Cardozo), reforços sem grande efeito prático (Djaló), desequilibradores intermitentes (Aimar, Rodrigo, Nolito).

E há, fundamentalmente, dois problemas sérios: a inexistência de uma política de rotatividade na equipa (o Benfica é a formação de topo que menos roda os seus jogadores) e a indisciplina. Até prova em contrário, estou convencido de que esta tem sido reflexo da frustração causada pela falta de pernas... Vejam-se as mais recentes expulsões em jogos grandes, onde uma equipa experiente e bem dirigida não pode arriscar ficar em inferioridade numérica.

Seja pelo físico, seja pelo ânimo, a verdade é que a equipa do Benfica chega à fase decisiva da época muito fragilizada. E isso tem de ser responsabilidade do treinador. Jorge Jesus parece ter progredido em termos de realismo na abordagem táctica às partidas – na sua primeira época, recorde-se, jogou fora na Liga dos Campeões como se estivesse no terreno de equipas menores do nosso campeonato... e deu-se mal. Mas a gestão do plantel continua a ser o seu ponto fraco.

Seja pelo que disse publicamente em vésperas dos quartos-de-final da Liga dos Campeões (dando a entender que a missão já estava cumprida); seja pela incapacidade para “chicotear” os jogadores na fase decisiva da temporada; seja, enfim, pelo incrível desperdício de uma vantagem que parecia decisiva no campeonato, Jesus parece não estar ainda à altura do que este Benfica podia ser. Será ele capaz de dar novo salto qualitativo ou assistimos ao fim de um ciclo?

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