Os sócios de bancada do Estrela da Amadora desceram ao relvado

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O novo emblema do Clube Desportivo Estrela

Grupo de adeptos juntou-se para refundar o clube da Reboleira com o mesmo espírito mas sem as dívidas

O Clube de Futebol Estrela da Amadora teve um fim de vida agonizante, sucumbindo ao peso de uma dívida de milhões. Declarado insolvente no início do ano passado, o desaparecimento do clube tricolor criou um vazio na Amadora, um dos maiores municípios do país, que deixou de ter um clube para ter as crianças a praticar desporto e que deixou de ter equipa para ir ver aos domingos ao Estádio José Gomes. Com a tradição de 80 anos de história, mas sem as dívidas, um grupo de sócios decidiu refundar o clube, com as mesmas cores, o mesmo espírito, mas o nome e o emblema ligeiramente diferentes.

Neste sábado, no salão nobre dos Bombeiros Voluntários da Amadora, quem era sócio e/ou adepto do Estrela da Amadora vai saber tudo sobre o Clube Desportivo Estrela (CDE) - que não terá Amadora no nome. "Começámos por apresentar um nome com Estrela da Amadora no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, mas foi rejeitado", explica ao PÚBLICO Jorge Pereira da Silva, um dos mentores do projecto (a marca foi registada em Setembro de 2011) e que fará parte dos órgãos sociais do novo clube.

O CDE nasceu de um grupo de reflexão sobre o Estrela, o Sempre Tricolores, que acompanhou o definhar financeiro e desportivo do clube, sem que nada conseguisse fazer para o impedir. A ideia, conta Jorge Pereira da Silva, já existia há algum tempo, mas avançou com maior velocidade após a realização de um jogo de homenagem ao Estrela em Junho do ano passado que contou com a participação de algumas antigas glórias, como Jorge Jesus, Abel Xavier, Chainho, Calado ou Jordão. "Somos sócios de bancada que desceram ao relvado para pôr a bola a rolar", diz Pereira da Silva, garantindo que nenhum dos promotores fez parte de anteriores direcções do Estrela.

Por enquanto, não são as conquistas desportivas que estão nos horizontes do CDE. O plano é começar por baixo, com escolas de futebol para crianças entre os seis e os 14 anos, e ter uma secção de atletismo, as duas modalidades, acrescenta Pereira da Silva, que estavam na fundação do clube em 1932. Até Setembro, o CDE prevê que possa ter cerca de 200 sócios e 40 crianças a praticar futebol pelo novo emblema, no início sem a vertente competitiva.

Como espaço para as escolas, o CDE quer que seja o Estádio José Gomes, recinto que foi colocado em hasta pública no processo de liquidação dos bens do Estrela para pagar as dívidas. Ninguém apresentou propostas pelo recinto, que tem recebido os treinos e os jogos do Atlético, enquanto duram as obras na Tapadinha. O CDE não quer caridade e apresentou uma proposta à comissão de credores, através de Paulo Sá Cardoso, administrador da insolvência do clube (que confirmou a existência da proposta), esperando uma resposta a breve prazo. "Fizemos uma proposta de ocupação de espaço, uma hora e meia por dia de segunda a sábado, que inclui a manutenção e recuperação activa do estádio em regime de voluntariado", explica Silva Pereira, acrescentando que, se o José Gomes falhar, o projecto pode funcionar num dos relvados sintéticos que existem no concelho.

"Queremos um clube sustentado e equilibrado", refere Pereira da Silva, que não quis divulgar o modelo financeiro do projecto, referindo que há muita gente disposta a meter dinheiro no clube, mas que não serão aceites investidores a qualquer preço e que não foi pedida nenhuma verba à Câmara da Amadora. O principal capital do CDE é a mística e a história de um clube cujo ponto alto foi a conquista da Taça de Portugal em 1990.

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