Rali de Portugal sai para a estrada com os olhos postos nas nuvens

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Os Citroën têm dominado em Portugal, mas a Ford está a melhorar sobre a terra batida Foto: DR

E, de repente, todos os olhares estão postos no céu. Apesar de um pelotão recheado de pilotos e carros de elite, apesar das novidades no percurso, apesar de todo o cuidado posto na organização da prova, o Rali de Portugal está agora "refém" de um imponderável: será que vai chover logo na primeira etapa? Obrigadas a fazer apostas sobre essa incógnita, as principais equipas adoptaram estratégias opostas. Após a sessão de qualificação, disputada quarta-feira para definir as posições de partida, os pilotos da Ford escolheram ser os últimos dos prioritários na estrada, enquanto a Citroën colocava os seus carros à cabeça do pelotão.

Se a edição 2012 do Rali de Portugal seguisse o figurino das mais recentes, esta opção poderia ser praticamente irrelevante. Mas o primeiro dia de prova não se esgota na superespecial dos Jerónimos (3,27 km), em Lisboa: estende-se pela noite na zona de Ourique, onde serão corridos três troços cronometrados (Gomes Aires, Santa Clara e Ourique, num total de mais 35,58 km). Com a meteorologia a admitir aguaceiros, acertar na previsão meteorológica pode ter efeitos importantes.

Mikko Hirvonen e Sébastien Loeb, que serão, por esta ordem, os primeiros na estrada, estão a contar que não chova. A ser assim, os dois Citroën terão a vantagem de não apanharem pó no percurso. Em declarações à AFP, Loeb é taxativo: "Com os nossos faróis que iluminam a grande distância, basta um pouco de poeira para nos tramarmos. Trinta quilómetros ao pó e podemos ficar a dois minutos." O que significaria, na prática, que o rali poderia "ficar decidido logo na quinta-feira"...

A organização vai regar a primeira parte do troço de Gomes Aires e a totalidade do percurso de Santa Clara, mas há alguma apreensão sobre o efeito combinado da falta de visibilidade e da iluminação artificial sobre pilotos que estão desabituados de competir à noite. Mas, se chover, ou houver vento, o pó não se levantará e os homens da Ford, Petter Solberg e Jari-Matti Latvala, beneficiarão do facto de o percurso já ter sido "limpo" pelos carros que os precedem, melhorando as condições de aderência.

Seja como for, a jornada de hoje será apenas a primeira das quatro desta 46.ª edição. Apesar dos avisos de Loeb, o mais provável é que só no domingo à tarde, após cumpridos os 434,77 km das 22 especiais de classificação, se perceberá quem fez as melhores opções tácticas e quem conseguiu lidar melhor com os demolidores pisos do Sul de Portugal. "Este rali é palco frequente de belos duelos", antecipa Loeb.

Mais de 50 inscritos

Este ano promete não ser diferente. O lote de inscritos é suculento: um total de 18 carros WRC participaram na qualificação e o pelotão ultrapassa as cinco dezenas de inscritos. Para além de todos os principais nomes do Mundial, liderado por Loeb, destaca-se ainda a presença do francês Sebastién Ogier, que triunfou nas duas últimas edições, mas que está este ano fora das equipas WRC - alinha com um Skoda Fabia S2000 à espera de se estrear na formação da Volkswagen no próximo Mundial.

Depois do asfalto de Monte Carlo e da neve da Suécia, o Mundial estreou-se na terra batida nos troços do México, mas a altitude a que a prova é disputada penaliza o desempenho dos motores e não permite ter uma ideia clara do que vale cada um dos competidores sobre este piso. Em Portugal, a Citroën tem dominado, mas os Ford estão melhores.

Para os portugueses, há ainda o aliciante extra de poder ver em acção Armindo Araújo, ao volante do seu Mini. Pela primeira vez, um piloto e uma estrutura portugueses competem ao mais alto nível no Mundial de ralis. E Armindo, que terminou nos pontos em Monte Carlo (foi 10.º) e no México (7.º), não esconde a ambição de bater o pé aos grandes. "Queremos terminar no top-10. É difícil, mas vamos dar o nosso melhor. Jogar em casa não tem vantagem em termos práticos, mas há toda uma energia positiva que nos rodeia..."

O piloto da Mini sai hoje para a estrada no sétimo posto, "uma escolha intermédia entre as opções das principais marcas". Já o seu colega de equipa, o brasileiro Paulo Nobre, capotou o Mini durante a qualificação, levantando grandes dúvidas sobre a sua presença à partida.

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