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Governo proibiu empresas públicas de transportes de falarem sobre a greve

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A greve geral de ontem foi a primeira de Arménio Carlos, enquanto secretário-geral da CGTP RUI GAUDÊNCIO

Paralisação de ontem foi mais fraca do que a de Novembro em muitos sectores. Arménio Carlos, líder da CGTP, admitiu uma "mobilização difícil". O dia terminou com uma detenção e três feridos

O Governo tentou calar a greve de ontem, proibindo as transportadoras públicas de divulgar informação sobre os impactos da paralisação nos comboios, metro, barcos e até nos aeroportos. A orientação foi enviada na quarta-feira, por email, aos presidentes das empresas, impedindo-os de divulgar dados sobre os efeitos dos protestos ou sequer de falar no assunto.

O documento foi enviado na véspera da greve geral convocada pela CGTP, em protesto contra a revisão do Código do Trabalho e as medidas de austeridade, por um assessor do secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro. A missiva dava orientações às administrações das transportadoras para não entrarem em confronto público com os sindicatos sobre os números da greve.

O email proibia ainda estas empresas de dar informações sobre o nível de adesão, os constrangimentos causados ou qualquer outra matéria relacionada com a greve. Face a esta carta, e ao contrário do que era habitual, as empresas de transportes não fizeram o normal balanço da paralisação, recusando-se a fornecer dados que permitiriam aos utentes acompanhar os efeitos dos protestos.

Esta decisão surge depois de o Governo ter anunciado a suspensão da divulgação dos dados que habitualmente eram prestados sobre a adesão à greve no Estado - que só serão apresentados no final deste mês. O primeiro-ministro recusou comentar as manifestações, preferindo sublinhar "o esforço grande que o país de um modo geral tem vindo a fazer".

O Governo quis conter os danos mediáticos e políticos, mas o facto é que tudo aponta para que os impactos da paralisação de ontem tenham sido menores do que os da greve geral de Novembro passado, convocada, em conjunto, pela CGTP e UGT. O próprio líder da Intersindical, Arménio Carlos, admitiu, logo pela manhã, que "naturalmente a mobilização dos trabalhadores é difícil".

Esta dificuldade de "mobilizar" foi sentida na manifestação que levou à Assembleia da República poucas centenas de pessoas, a meio da tarde de ontem. No ano passado, só o movimento 15 de Outubro conseguiu levar cerca de 2000 pessoas a São Bento, tendo os protestos resultado em sete detenções e um ferido. Este ano, registou-se apenas uma detenção e três feridos, após confrontos com a polícia, no Largo do Chiado, em Lisboa. No Porto, houve igualmente violência e detenções.

Os desacatos começaram ao início da tarde, quando cerca de 150 manifestantes desfilavam pela Av. Almirante Reis, atirando ovos contra as instalações bancárias e algumas pessoas que estavam a levantar dinheiro no Multibanco. Ainda assim, no ano passado foi pior: duas repartições das Finanças em Lisboa foram vandalizadas, com cocktails-molotov.

Reunião com Passos

No final da manifestação, Arménio Carlos, que se estreou numa greve geral, mudou o discurso e disse que a paralisação teve "grandes adesões", embora sem concretizar.

Os que conseguiram chegar mais perto da carrinha de onde o líder da Intersindical falou, abrigado do sol, iam aplaudindo. Mas quem estava a mais de 100 metros mal conseguia ouvir as palavras de Arménio Carlos e não foi por não conseguir avançar, uma vez que havia muitos espaços livres. Vinte minutos depois do início do discurso, os ânimos exaltaram-se e um confronto entre os manifestantes terá resultado num ferido, embora a polícia não tenha confirmado.

Ao final da noite, o líder da CGTP voltou a reforçar que ontem se viveu uma "grande greve geral", com uma adesão semelhante à verificada em 2010 e em 2011. Apesar da insistência dos jornalistas, o dirigente recusou avançar números, relatou a Lusa. Disse apenas que vai pedir uma reunião de urgência com o primeiro-ministro para que seja abandonada a proposta revisão laboral, que vai ser votada a 30 de Março no Parlamento.

A paralisação foi, de facto, mais fraca do que a de Novembro em alguns sectores importantes. A Federação Nacional de Professores (Fenprof) deu conta do encerramento de 80 escolas ontem. No entanto, em Novembro, a lista de instituições de ensino fechadas ultrapassou as 170. O secretário-geral da federação, Mário Nogueira, reconheceu que a adesão ficou abaixo do esperado.

Também nos transportes, a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações situou a adesão entre os 70 e os 100%, quando, em 2011, assegurou que foi alcançado, em média, um nível de 96%. Os aeroportos também não sofreram praticamente impactos, quando tinham ficado praticamente vazios a 24 de Novembro. Nesse dia, a TAP foi obrigada a cancelar mais de 120 voos. Ontem, deixou em terra apenas duas frequências.

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