Cakes and Tapes

Gostamos de inquéritos. E de música. Decidimos encostar à parede pequenas editoras portuguesas. Diogo Soares Silva, da Cakes and Tapes, é o primeiro a responder ao FAQ

Foto
Adriano Miranda

Ninguém vos disse que já não se vive da música?

Por acaso, tenho colado na parede do quarto um recorte duma revista que diz: "Nunca vais conseguir viver da música." Não que tenha alguma vez pensado nisso. Também serve para me lembrar de que a Cakes and Tapes (C&T) provavelmente nunca passará de um "hobby", a tempo parcial ou inteiro, dependendo da minha disponibilidade. Felizmente, trabalho como investigador e ganho uns trocos para sustentar o passatempo.

Escolheram o nome da vossa editora numa noitada de Scrabble?

A realidade é que, em 23 anos, nunca joguei Scrabble. Uma vergonha. Foi o Fernando, de uma das grandes "netlabels" luso-japonesas, a MiMi Records, que sugeriu o nome. Às vezes perguntam-me pelos bolos, mas para já só faço mesmo cassetes.

Que bandas de outras editoras levariam para uma ilha deserta?

Foto
K7 de The Shilohs

Levava os Spiritualized, os Current 93, os Calexico e o Jason Molina. Se conseguisse convencê-lo a ir para um sítio onde não há bebidas alcoólicas, claro. Também não me importava de levar as bandas todas da Constellation.

Foto
Luís Octávio Costa e Amanda Ribeiro têm saudades do inquérito da revista Pública

A vossa editora tem sotaque?

Foto
Cakes & Tapes

Já lançámos álbuns e EPs de artistas de oito nacionalidades. Mas, aqui no escritório da C&T, só se fala português com sotaque do Grande Porto. Por "escritório da C&T" quero dizer "o meu quarto e, às vezes, a sala", claro.

Quando é que foi a última vez que encheram os bolsos — e o ego?

Nunca enchemos os bolsos, mas agradecemos que os Yellow Ostrich se tenham tornado semi-famosos depois de terem assinado pela Barsuk. Somos uma espécie de Sporting das editoras: nunca ganhamos nada de especial, mas ficamos muito orgulhosos quando os nossos rapazes fazem sucesso após terem passado por cá.

Um álbum também se come com os olhos. Quem é o verdadeiro artista?

Hoje em dia, a embalagem pesa tanto quanto o conteúdo musical de uma obra na hora do consumidor gastar dinheiro em música num suporte físico. Daí a nossa preocupação em fazer as embalagens das cassetes à mão. Eu podia ganhar horas e horas de tempo livre pedindo ao fornecedor de cassetes que fizesse o esse trabalho todo por mim, mas o "hobby" perderia metade da piada. Limitar-me a enviar e receber e-mails, actualizar o Facebook e empacotar cassetes em envelopes almofadados nem sequer seria um "hobby".

Qual é o melhor sítio para ouvir música?

O melhor sítio para se ouvir música é o comboio, de preferência com auscultadores "in-ear" para evitar ouvir conversas sem assunto e "kizombadas" aos berros debitadas a partir do telemóvel da miúda com argolas gigantes sentada ao fundo da carruagem. É uma actividade que alia o prazer à utilidade e faz com que a viagem passe mais depressa, e só não levaria cinco estrelas no "Ípsilon" porque não há nada que possa fazer quanto ao cheiro que inunda o comboio à passagem por Cacia.

E que tal uma piada seca?

Não me parece de bom tom fazer piadas secas quando a ministra Assunção Cristas se vê obrigada a passar os dias a rezar para que chova.

Sugerir correcção
Comentar