Oficina de São José fechou as portas no Verão de 2010

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Caso Gisberta marcou o princípio do fim da Oficinas São José adriano miranda

Desde meados de 2010 que a Oficina São José, que acolhia 11 dos menores implicados no homicídio de Gisberta, está de portas fechadas. E a própria Diocese do Porto admite que o homicídio do transexual e sem-abrigo, em Fevereiro de 2006, marcou o princípio do fim daquela instituição que desde 1833 acolhia menores em risco.

Gisberta - na verdade Gisberto Júnior - vivia da prostituição e na indigência num parque de estacionamento do Porto e morreu após os maus tratos infligidos por um grupo de menores maioritariamente entregues aos cuidados daquela instituição, então vocacionada para o acolhimento de jovens sujeitos a medidas tutelares educativas. À boleia do caso Gisberta vieram à tona denúncias de vários casos de maus tratos e abusos a menores da Oficina São José.

Em Março de 2010, a Igreja optou por fechar a valência de acolhimento de menores em risco e anunciou que a Oficina passaria a funcionar como pólo de formação profissional em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional. "Havia diálogo com o anterior Governo nesse sentido, mas com a mudança no Governo e com os constrangimentos financeiros do país, o projecto acabou por não avançar", adiantou ao PÚBLICO Lino Maia, o representante da Igreja Católica responsável por esse dossier. O porta-voz da diocese, o padre Américo, confirma que as crianças foram mandadas de férias no Verão de 2010 e, em Setembro, já não regressaram, tendo sido encaminhadas para outras instituições.

Segundo Lino Maia, "é evidente que as denúncias de maus tratos e abusos, a par do triste caso Gisberta, motivaram uma reflexão profunda sobre a instituição, mas o que se conclui foi que a mudança do contexto histórico e social exigia da instituição uma agilidade e recursos humanos de que esta não dispunha".

Fundada em 1883 pelo padre Sebastião Vasconcelos, a Oficina de São José estava vocacionada para acolher órfãos e crianças abandonadas e oriundas de famílias pobres. Progressivamente começou a receber rapazes encaminhados pela Segurança Social ou pelos tribunais, "mais velhos e alguns arrancados à pré-marginalidade", conforme se lê na agência Ecclesia, órgão oficial da Igreja Católica. "Além disso", acrescenta o padre Lino Maia, "as instalações foram-se degradando e eram demasiado grandes para o acolhimento de menores em risco". Por estes dias, a Obra Diocesana continua a analisar que finalidade poderá ser dada ao edifício do número 123 da Rua Alexandre Herculano.

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