Governo não se opõe ao regresso de António Borges à Jerónimo Martins

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Borges saiu da administração da Jerónimo Martins quando foi para o FMI Foto: Miguel Madeira

O Governo respondeu hoje às críticas da oposição sobre o regresso de António Borges ao conselho de administração da Jerónimo Martins, considerando não existir qualquer conflito de interesses no facto de o economista acumular este cargo com a supervisão das privatizações junto da Parpública.

A proposta da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, maior accionista da dona do Pingo Doce, para António Borges regressar à administração da Jerónimo Martins como vogal sem funções executivas gerou hoje críticas em bloco por parte da oposição, às quais o Ministério das Finanças veio agora responder num curto comunicado enviado às redacções.

O Governo “entende não existirem quaisquer incompatibilidades ou conflitos de interesses” entre o cargo proposto a Borges pelo maior accionista da Jerónimo Martins e “as funções de consultoria” na equipa que supervisiona junto da Parpública (a holding que gere as participações empresariais do Estado) as privatizações, as renegociações das parcerias público-privadas (PPP) e a reestruturação do Sector Empresarial do Estado.

“O Ministério das Finanças regista com agrado a preocupação do Sr. Professor António Borges de sujeitar à não oposição da Parpública a aceitação do convite para desempenhar funções de vogal não executivo no conselho de administração da Jerónimo Martins”, sustenta o ministério liderado por Vítor Gaspar.

O regresso de António Borges à administração da empresa controlada pela Sociedade Francisco Manuel dos Santos foi ontem proposto à assembleia-geral da Jerónimo Martins, que deverá também votar a entrada de mais um vogal (o responsável financeiro Alan Johnson) a 30 de Março.

Borges, antigo vice-presidente do PSD e também vice-governador do Banco de Portugal, foi anunciado em Fevereiro pelo primeiro-ministro como o responsável da comissão de acompanhamento e supervisão das privatizações.

O facto de o seu nome ter sido escolhido para integrar o conselho de administração da Jerónimo Martins, a que Borges pertencera até Novembro de 2010, acumulando o cargo com a responsabilidade junto da Parpública, foi interpretado como uma incompatibilidade pela oposição, que hoje exigiu explicações ao Governo.

O deputado socialista José Lello considerou haver “uma confusão” por causa da acumulação de cargos. “Penso que estamos perante uma incompatibilidade manifesta, porque há uma confusão de interesses”, observou, citado pela Lusa.

A mesma crítica foi feita pelo Bloco de Esquerda e o PCP. A deputada Ana Drago considerou “absolutamente inaudito que alguém que desempenha funções com este grau de importância” possa estar simultaneamente num “dos principais grupos portugueses”, cita a mesma agência.

O deputado comunista Honório Novo sugeriu mesmo a saída de Borges da comissão de acompanhamento. “Lançamos um desafio para que, das duas uma, ou o senhor António Borges tem decoro e se demite da comissão de privatizações ou o Governo tem que o demitir do cargo para o qual o nomeou”, afirmou, citado pela Lusa.

A escolha do economista para a equipa de supervisão das privatizações foi conhecida meses depois de António Borges se demitir, em Novembro último, do departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional, que tinha ido liderar um ano antes.

Borges, que esta tarde discursou na conferência Como Portugal pode dar o salto, no CCB, em Lisboa, não comentou o regresso à Jerónimo Martins.

Notícia actualizada às 17h46 e às 18h45

: Acrescenta informação sobre a proposta da Sociedade Francisco Manuel dos Santos à assembleia-geral da JM, as críticas dos partidos da oposição e a nota sobre a intervenção desta tarde de António Borges

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