Maioria copia mas poucos são apanhados

Um estudo de Aurora Teixeira, docente na FEP, aponta para uma percentagem de estudantes que copiam nos exames a rondar os 70%. Se para uns copiar é o melhor remédio, para outros trata-se de algo inadmissível

Daniel Rocha
Fotogaleria
Daniel Rocha
Nelson Garrido
Fotogaleria
Nelson Garrido

Entre os 5403 estudantes do ensino superior inquiridos para o estudo de Aurora Teixeira, 69,3% afirma copiar nos exames, sendo que, destes, apenas 3,4% foram apanhados em flagrante pelos docentes. "Não fiquei supreendida", confessa ao JPN a professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

Copiar é já um acto considerado pelos alunos "normal" e um problema "pouco grave". Pedro, estudante na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), confessa cabular com alguma frequência e com meios bastante arriscados. "Costumo copiar principalmente naqueles exames mais difíceis ou então em exames que aparecem no meio de uma semana muito preenchida", diz.

Como é que faz? "Normalmente não recorro a papéis nos bolsos nem ao telemóvel, nem a nada de sofisticado. Levo folhas A4 para a sala e meto-as entre as folhas de rascunho sem que o professor se aperceba", explica, sem hesitações. Apesar de copiar de vez em quando, o jovem aluno assume que nem sempre os resultados são excelentes. "Não tiro grandes notas por copiar. Consigo safar-me mas é só isso. Dá para um 10, um 11 ou 12", conta, acrescentando que já é um veterano na matéria, já que é adepto dos auxiliares de memória desde o 5.º ano.

Ana estuda na FLUP e enquadra-se no lote dos que não copiam. A aluna diz que nunca o fez e não é agora que o fará. "Nunca copiei. Nem no básico, nem no secundário. Os meus pais sempre me ensinaram a ser honesta e verdadeira", afirma. "Já tive colegas que viram as suas provas anuladas", diz, alertando ainda para o risco que é copiar pelo colega do lado em determinadas ocasiões, pois "nem sempre o que copiamos está correcto".

Obrigados a anular provas

Sejam quais forem as razões que levam os alunos à fraude, a atitude do docente deve ser a mesma: anular o exame. Pelo menos é essa a opinião do docente britânico Nicolas Hurst, há muitos anos em Portugal. Diz que o melhor é os docentes adotarem o sistema de "exames com duas versões e ordem de questões diferentes".

É, de resto, uma opinião partilhada por Nicole Vareta, que há dois anos abandonou a docência na FLUP. A antiga professora lamenta os números apresentados no estudo de Aurora Teixeira, mas não deixa de relembrar que "copiar é já uma prática muito antiga".

Sobre os 3,4% que confirmam terem sido apanhados, Nicole Vareta assume "alguma falta de atenção dos professores". Mas também recorda que nos anfiteatros, que chegam a estar repletos de estudantes, é impossível o docente estar atento a toda a gente. Alunos que, do seu ponto de vista, vêm já "mal preparados dos níveis de ensino anteriores" e, por isso, recorrem às fraudes durante os exames.

Software não é suficiente para resolver o problema

"A tendência é para crescer", afirma Aurora Teixeira, referindo-se ao número de pessoas que copiam nos exames. Por agora o que é preciso fazer é tentar contrariar os números e isso, diz a autora do estudo, não passa por criar softwares que detectem plágios, como o Turnitin, por exemplo.

O mais importante é "o diálogo e a pedagogia entre os docentes e os alunos", até porque, sublinha, "muitas vezes os alunos deixam-se copiar pelos colegas por questões de amizade e altruísmo". Trata-se de um flagelo que, de acordo com alguns professores, pode comprometer o futuro dos estudantes. Diz a docente da FEP que "enquanto isto for normal para os estudantes vai ser difícil mudar".

Sugerir correcção
Comentar