Quatro fotógrafos estrangeiros revelam a Guimarães "transgénica"

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Um símbolo nacional cruzado com a realidade fabril do Vale do Ave Imagem: Filipe Dujardin

A imagem do castelo-fábrica criada por Filipe Dujardin arrisca a tornar-se num dos ícones da Guimarães 2012. O fotógrafo belga olhou para o símbolo da nacionalidade tal como o conhecemos e manipulou-o digitalmente, cruzando-o com as fotografias das unidades industriais da região. Durante o último ano, outros três artistas estiveram no vale do Ave de máquina na mão para retratar a paisagem. O resultado é hoje dado a conhecer na exposição Missão fotográfica: Paisagem transgénica.

Dujardin esteve duas vezes em Guimarães. Viu o castelo, o Paço dos Duques e o centro histórico e lembrou-se de uma máxima que costuma aplicar: "Se é tudo perfeito, eu desconfio". Por isso decidiu desconstruir os monumentos, cruzando-os com aquilo que encontrou na periferia da cidade.

O fotógrafo belga levou a ideia de uma paisagem transgénica ao extremo, fazendo uso da edição digital. Mas este é o conceito-base desta exposição, usando a formulação que o geógrafo Álvaro Domingues aplica ao Vale do Ave.

Este é um território em que urbano, rural e industrial se cruzam, com fronteiras pouco definidas. De tal modo que Katalin Deér se perdeu e acabou a fotografar Vizela e Santo Tirso.

"Tive que apreender a forma como as coisas se fazem aqui", confessa a fotógrafa norte-americana, radicada na Suíça. A artista fotografou em 35mm: fábricas, casas, torres de quartéis de bombeiros. E escolheu 60 fotografias, que estão dispostas sobre tampos de mesas recuperados da antiga fábrica ASA.

A estes dois fotógrafos juntam-se ainda o sueco JH Engstrom (que retrata Guimarães em sequências de polaroids danificadas e imagens bucólicas de cores saturadas) e o italiano Guido Guidi (fotografias de médio e grande formato, concentradas em pormenores das construções).

No âmbito do projecto Missão fotográfica: Paisagem transgénica, da Guimarães 2012, os quatro artistas estiveram em residência artística no concelho durante 2011. Nenhum deles tinha trabalhado antes em Portugal e esse "foi um dos critérios de escolha", conta Pedro Bandeira, que partilha com Paulo Catrica a curadoria do projecto, de modo a garantir um olhar descomprometido. A encomenda aos fotógrafos partia da arquitectura, mas não de um ponto de vista "erudito". "Queríamos um olhar muito honesto em relação ao que existe, transmitindo a ideia de um território que não é só construído por arquitectos", conta Bandeira.

A exposição é inaugurada às 18h, no Centro Cultural Vila Flor, onde fica até 19 de Maio. O dia de hoje na Capital da Cultura vai ainda ficar marcado pela abertura da antiga fábrica têxtil ASA, reconvertida em espaço cultural. Nas áreas expositivas serão inauguradas duas mostras do programa de Arte e Arquitectura - O ser urbano: Nos caminhos de Nuno Portas; e Collecting, collections and concepts, com obras de empresas e fundações portuguesas.

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