Sem medo

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Xandão marcou o golo do triunfo leonino Foto: Patricia de Melo Moreira/AFP

Há vários jogadores do Manchester City que custaram mais do que o que o Sporting gastou nesta temporada. Por exemplo, Kun Aguero, genro de Maradona e um dos melhores avançados do mundo, custou 45 milhões de euros, enquanto o Sporting comprou esta época 17 jogadores por 30 milhões. Ora, se os Beatles diziam que o dinheiro não pode comprar amor, também não compra necessariamente uma equipa de futebol e nesta quinta-feira, em Alvalade, bastou um calcanhar para o Sporting secar a equipa com os bolsos mais fundos do futebol mundial. Uma vitória por 1-0, tão inesperada quanto justa, abriu boas perspectivas aos “leões” nestes oitavos-de-final da Liga Europa.

O Manchester City é mais do que um conjunto de jogadores caros e bem pagos e tem estado a prová-lo na Premier League, que lidera com toda a justiça. O Sporting, pelo contrário, é um clube em revolução permanente, sem estabilidade e com poucos resultados, quarto na Liga portuguesa, muito longe dos primeiros e com o moral em baixo. No papel, a diferença de valor e de expectativas é enorme.

Era, portanto, um jogo que metia medo aos adeptos do Sporting. Mais do que medo da derrota, era medo da humilhação, semelhante à que sofrera o FC Porto na ronda anterior, um resultado de 6-1 nos dois jogos da eliminatória. Mas não a Ricardo Sá Pinto. Pelo menos, não publicamente. O novato técnico do Sporting disse-o na conferência de imprensa de antecipação do jogo e garantiu que os “leões” não iriam estender a passadeira vermelha. A eliminatória nunca poderia estar perdida antes de se jogar sequer um minuto.

Uma coisa estava a favor do Sporting: a história. Em dez jogos com equipas inglesas em Alvalade, os “leões” apenas tinham perdido um, precisamente com a outra equipa de Manchester, o United. Mas tudo indicava que o City iria seguir o exemplo. O domínio inicial foi todo dos visitantes. A formação de Mancini fazia da posse de bola e da mudança de velocidade no último terço do terreno as suas principais armas, esperando que a defesa “leonina” cedesse, como costuma acontecer. Mas não aconteceu. Aqueles que tinham sido os réus em Setúbal, Polga e Xandão, não deram espaços a Dzeko e Aguero. Apenas o espanhol David Silva mexia alguma coisa no ataque dos britânicos.

À segurança defensiva e ao domínio consentido, o Sporting também se começou a mostrar no ataque graças à velocidade e técnica dos seus alas, mas também a Carriço, Schaars e, principalmente, Matías. Só faltava um melhor acompanhamento de Van Wolfswinkel.

Ambas as equipas estiveram perto de inaugurar o marcador na primeira parte. Gareth Barry podia ter marcado aos 24’, Matías teve um bom tiro aos 39’, mas ficou tudo a zero.

Na segunda parte, o Sporting assumiu uma atitude mais ofensiva e teve o prémio. Minuto 50’, Matías marca um livre, o guarda-redes Joe Hart não segura a bola e ainda desvia um primeiro toque de Xandão. Mas o guarda-redes não consegue segurar o toque de calcanhar do defesa brasileiro. Alegria total, um golo festejado como poucos esta época pelo Sporting, que aos 63’, esteve muito perto do 2-0, mas Wolfswinkel não deu o melhor seguimento a uma jogada de Insúa.

Depois, Sá Pinto quis defender o resultado, tirando Izmailov e Matías para meter Pereirinha e Renato Neto. Mancini respondeu com Balotelli para o lugar de Dzeko e o City cresceu muito. Foram uns 20 minutos finais de algum sofrimento para os “leões”, com Rui Patrício a ver duas bolas devolvidas pela trave da sua baliza (Kolarov, 68’, e Balotelli, 87’).

O Sporting até pode nem passar esta eliminatória porque o City, de certeza, não será tão displicente no jogo da segunda mão, na próxima semana, mas ontem os “leões” conseguiram mais do que uma vitória frente à equipa mais cara do mundo. Foi como um choque que pode ter trazido a equipa de volta à vida.

A Figura: Xandão

Se há defesa goleador neste Sporting é Oguchi Onyewu. Mas o norte-americano está lesionado e é por isso que joga Xandão, central alto, contratado ao São Paulo no mercado de Inverno. Até agora não tinha causado grande impressão e foi mesmo um dos responsáveis pela derrota em Setúbal. Mas ontem teve o seu momento de redenção, ao marcar de calcanhar o golo do triunfo sobre o City – o Sporting já havia tido um golo de calcanhar esta época, de Van Wolfswinkel, frente à Lazio de Roma. Mas a redenção do brasileiro não se deveu só ao golo que marcou – o primeiro pelo Sporting – ,foi também pela boa exibição a defender, formando com Polga uma dupla intransponível para o milionário ataque dos visitantes. Merece mais oportunidades num sector que tem sofrido bastante com lesões.


POSITIVOMatías

Foi no chileno que se começaram a ver sinais de revolta contra o favoritismo do City. Marcou o livre que resultou no golo e foi dos que mais cedo se desinibiu.


Daniel Carriço

Formou com Schaars uma dupla intransponível no meio-campo. Com grande capacidade de antecipação, mostrou que também sabe construir.


NEGATIVOVan Wolfswinkel

Continua afastado dos golos e ontem até podia ter marcado mais do que uma vez. Falta-lhe confiança, mas o Sporting não parece ter melhores soluções.


Dzeko

O bósnio, tal como quase todos os seus colegas do City, pareceu não levar muito a sério o jogo com o Sporting.


Ficha de Jogo

Sporting, 1Manchester City, 0

Jogo no Estádio José AlvaladeAssistência 39.871 espectadores


Sporting

Rui Patrício, João Pereira, Xandão, Polga, Insúa, Daniel Carriço, Matías Fernández (Renato Neto, 69’), Schaars, Izmailov (Pereirinha, 59’), Van Wolfswinkel e Capel (Carrillo, 75’). Treinador Sá Pinto


Man. City

Hart, Clichy, Kolo Touré, Kompany (Lescott, 12’), Kolarov, Milner, De Jong, Barry (Nasri, 59’), David Silva, Dzeko (Balotelli, 71’) e Aguero. Treinador Roberto Mancini


Árbitro

Carlos Carballo, de Espanha.

Amarelos

Izmailov (45'), De Jong (45'+1’), Polga (78’)João Pereira (81’), Renato Neto (84'), Kolarov (90'+4’)


Golos

1-0, por Xandão, aos 51’ 



Notícia actualizada às 22h52
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