O jogo da época não vai decidir o campeão e pode ajudar terceiros

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Benfica e FC Porto estão empatados Foto: Rafael Marchante/Reuters

Na última visita do FC Porto à Luz para o campeonato apagaram-se as luzes e ligaram-se os regadores da relva quando os portistas celebravam a conquista do título, após um triunfo por 2-1. Na altura, o FC Porto de André Villas-Boas era uma máquina quase invencível, enquanto o Benfica de Jorge Jesus foi vítima de um mau começo de temporada e de um mau final. Passadas duas semanas, o FC Porto voltou a ser feliz no estádio do rival, com o apuramento para a final da Taça. Quase um ano depois, a Luz volta a receber o “clássico” e nenhum tem estatuto de imbatível ou se apresenta demasiado fragilizado. E chegam iguais à 21.ª jornada, com 49 pontos.

Talvez o ascendente emocional pertença aos homens de Vítor Pereira, que recuperaram os cinco pontos que tinham de desvantagem para os “encarnados” em apenas duas jornadas, mas há sempre a pressão acrescida de o campeonato ser o único objectivo (a Taça da Liga é uma causa menor para todos) depois da eliminação da Taça de Portugal e do traumático afastamento da Liga Europa às mãos do Manchester City. E o campeonato, onde também já sofreu uma derrota (Gil Vicente), parece mesmo ser a única coisa que segura Vítor Pereira no banco do Dragão. É da conquista desse objectivo que o seu futuro parece depender, mesmo que o discurso para fora seja o de confiança mútua entre treinador e o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa.

O Benfica ainda tem outros horizontes competitivos nesta temporada - joga o acesso aos quartos-de-final da Liga dos Campeões na próxima terça-feira - e parecia embalado para um percurso relativamente tranquilo na Liga, que permitisse a Jorge Jesus fazer outro tipo de gestão de recursos. Mas o que aconteceu nas duas últimas jornadas deu cabo da almofada benfiquista em relação aos perseguidores. Jesus até se irritou com um jornalista quando lhe falaram da “situação delicada” do Benfica após ter sofrido a primeira derrota do campeonato em Guimarães (a que se seguiu um empate em Coimbra).

O sinal mais preocupante é o de que o Benfica não marcou nos dois últimos jogos, quando tinha marcado sempre nos jogos anteriores. Jesus disse ontem em conferência de imprensa que era injusto julgar o Benfica pelo incapacidade ofensiva recente. A verdade é que a equipa tem 47 golos marcados (tal como o FC Porto) no campeonato e, antes dos jogos em Guimarães e Coimbra, tinha marcado sempre, enquanto os portistas já tiveram três jogos em que ficaram a zero (Feirense, Olhanense e Sporting). E o FC Porto tem sido mais inconstante nos resultados. O melhor que os portistas conseguiram foi quatro vitória consecutivas (da primeira à quarta jornada), enquanto os “encarnados” chegaram a ter uma série de oito triunfos seguidos, que terminou com a derrota em Guimarães.

Há um ano, com o mesmo número de jogos disputados no campeonato, as diferenças eram bem maiores entre os dois rivais, com posições trocadas. O FC Porto liderava, com 54 pontos, enquanto o Benfica somava 48. Estes seis pontos, dez jornadas depois, cresceram para 21 e os portistas foram campeões sem derrotas. As últimas dez jornadas de Villas-Boas foram quase perfeitas (nove vitórias e um empate), enquanto as de Jesus foram desastrosas (quatro vitórias, três empates e três derrotas).

Este jogo, que marca o arranque para o último terço do campeonato, poderá ser um importante reforço psicológico para quem vencer, mas não irá decidir o campeão porque, depois, ficam a faltar nove jogos, com 27 pontos em disputa e espaço para recuperação caso a vitória caia para qualquer um dos lados - pode, no entanto, servir para desempatar caso ambos cheguem ao fim com o mesmo número de pontos. Até ao fim da época, ambos ainda terão compromissos difíceis. O FC Porto recebe, por exemplo, Académica e Sporting, e tem difíceis deslocações aos terrenos de Nacional, Sp. Braga e Marítimo. Já o Benfica, depois do encontro de hoje, recebe na Luz Sp. Braga e Marítimo e visita os campos de Olhanense e Sporting.

E depois há o Sp. Braga, o candidato não assumido ao título, mas a quem os resultados vão legitimando as aspirações ao primeiro lugar. É aos minhotos que pertence a melhor série vitóriosa do campeonato, que já vai em nove e pode aumentar, dependendo do que fizerem amanhã na Madeira. A diferença para os dois da frente é de apenas três pontos e os homens de Leonardo Jardim já vão entrar vencedores na Choupana. Dê empate ou vitória na Luz.

Notícia corrigida às 13h53, trocando ficaram por ficam e Académica por Olhanense no penúltimo parágrafo
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