Fundos são importantes mas também levantam suspeitas

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Foi o negócio de Tévez que levou à proibição dos fundos em Inglaterra Foto: Paul Ellis/AFP

O recurso a fundos de jogadores ou a cedência de passes de futebolistas a terceiros não é algo novo, mas tornou-se mais frequente nos últimos tempos, face à escassez de crédito bancário que também afecta os clubes de futebol. Em Portugal, Espanha, Itália e Turquia os clubes recorrem cada vez mais a este instrumento para obterem liquidez e partilharem o risco do investimento num futebolista.

Habituais na América do Sul, os fundos de jogadores estão proibidos em Inglaterra e França, países onde os passes dos futebolistas têm de estar integralmente nas mãos de clubes. A proibição em Inglaterra surgiu em 2007, depois das dúvidas sobre a propriedade dos direitos económicos do argentino Carlos Tévez, então avançado do West Ham.

E o que vão fazer as autoridades internacionais do futebol? A FIFA mantém-se na defensiva, começando por dizer que estas parcerias não devem ser designadas de "propriedade de terceiros", mas sim "influência de terceiros". Questionado pelo PÚBLICO, o gabinete de imprensa da FIFA diz que o artigo 18.º do Estatuto e Transferências de Jogadores "não proíbe os fundos, mas que o investimento de terceiros se torna ilegítimo se essa parte tiver o direito de influenciar decisões do clube quanto a matérias de emprego ou transferências".

A mesma fonte destaca que desde Outubro de 2010 está em utilização o Transfer Matching System, um sistema de controlo de transferências, em que os clubes são obrigados a indicar os montantes envolvidos em cada operação e se há terceiros envolvidos.

A FIFA está ainda a preparar uma nova legislação sobre os empresários de futebol, que será discutida em Março, no próximo congresso. "O novo sistema também quer clarificar as modalidades de pagamento [a agentes]. Quem paga ao intermediário (clubes ou jogadores?) e qual a percentagem que é paga?", adianta o organismo.

Da parte da UEFA, que tem sido pressionada pelas ligas inglesa e francesa para proibir os fundos, o secretário-geral, Gianni Infantino, deixou na semana passada a ideia de que o organismo pode analisar a proibição deste instrumento nas suas competições.

Ingleses e franceses queixam-se que podem vir a ser discriminados no cumprimento das regras do "Fair Play Financeiro" (as novas regras de controlo das contas dos clubes), porque quem usa fundos está a antecipar receitas de transferências.

Questionado pelo PÚBLICO, o gabinete de imprensa da UEFA respondeu que o organismo vai "analisar esta questão durante a fase de implementação" do "Fair Play Financeiro", mas avisa que as novas regras vão avaliar as contas dos clubes por ciclos de três anos, pelo que os clubes que antecipam receita com este instrumento mais tarde, se venderem o jogador, também não recebem a totalidade do valor da transferência.

Os fundos e parcerias têm levantado suspeitas por não se saber, muitas vezes, de onde vem o dinheiro e que tipo de influência os donos desses fundos podem ter no futebol. "Hoje há situações um pouco obscuras", admite Álvaro Nascimento, professor de Economia na Universidade Católica do Porto e um dos autores de um estudo sobre as finanças do futebol português. "Fico sempre preocupado quando acham que a melhor solução é proibir. Temos é de transformar os fundos em entidades mais transparentes", diz este professor.

A Federação Portuguesa de Futebol mantém-se expectante quanto ao tema, mostrando-se convencida de que "a UEFA não deixará de ouvir as federações, representantes de jogadores, clubes e demais entidades directa ou indirectamente envolvidas antes de tomar quaisquer medidas". Em Novembro, Fernando Gomes, actual presidente da FPF e então presidente da Liga, tinha admitido ao PÚBLICO que "os fundos são uma forma alternativa de financiamento" para os clubes, desvalorizando os riscos de estes afectarem a integridade das competições. "A relação laboral é entre clube e jogador", concluiu.

Artigo originalmente publicado na edição impressa de 12-02-2012
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