Vestígios de dois barcos do século XVIII descobertos ao largo de S. Julião da Barra

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Forte de S. Julião da Barra pode vir a receber exposição dos achados Pedro Cunha

Arqueólogos apresentam nesta quinta-feira, em Cascais, os resultados da campanha levada a cabo para desvendar os segredos depositados no fundo do mar naquele que foi o principal acesso a Lisboa.

Ainda não se sabe ao certo onde repousam os restos dos três barcos oriundos do Brasil que, em 1720, naufragaram à entrada do rio Tejo. Mas pelo menos de uma das embarcações foram recentemente descobertos vestígios nas proximidades do Forte de S. Julião da Barra, no âmbito da campanha de levantamento arqueológico subaquático, realizada no Outono. Os resultados serão hoje à tarde apresentados numa conferência no Museu do Mar Rei D. Carlos, em Cascais.

Para além de elementos que se presumem pertencer ao barco da frota que vinha de terras de Vera Cruz, e que se afundou já à vista de Lisboa, foram também recolhidos vestígios que podem ser atribuídos a um navio de guerra inglês, também do século XVIII. Estes dois novos casos foram descobertos nas proximidades do local onde já se sabia ter naufragado, em 1606, a nau Nossa Senhora dos Mártires. Os novos achados "abrem um novo olhar para diversos contextos arqueológicos" presentes ao largo de S. Julião da Barra, salienta José António Bettencourt, do Centro de História de Além-Mar, da Universidade Nova de Lisboa.

"Identificamos novas evidências relacionadas com outros naufrágios, desde o século XVI ao século XX, que tocam vários países e diversas realidades culturais", acrescenta o coordenador científico da campanha que, entre Outubro e Novembro, decorreu ao largo do forte de S. Julião, promovida pelas autarquias de Cascais e Oeiras e com o apoio do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar). Os trabalhos consistiram no registo gráfico e fotográfico e na georeferenciação dos vestígios mais relevantes, a incorporar na carta arqueológica subaquática de Cascais.

"Há muito para fazer"

Apesar da recolha de alguns materiais avulso, como porcelanas chinesas que se presumem pertencer à Nossa Senhora dos Mártires - a juntar ao espólio antes recolhido e exposto na Expo-98 -, a maioria dos canhões e âncoras registadas permanecem debaixo de água, à espera de uma eventual fase subsequente de escavação. "Ainda estamos muito no princípio. Há muito para fazer antes de se avançar para a escavação", afirma, por seu lado, António Fialho, arqueólogo subaquático da Câmara de Cascais. "Cada vez mais a arqueologia subaquática tende a ser o menos intrusiva possível, para evitar a destruição do sítio", nota o técnico que participou na campanha, apontando como principais obstáculos a vencer as condições de fraca visibilidade e das correntes marítimas.


António Carvalho, director do departamento de Cultura em Cascais, sublinha que a campanha permitiu, pela primeira vez, fazer um levantamento preciso "na zona com mais naufrágios" do litoral do concelho, depois de trabalhos realizados no cabo Raso, na Guia e ao largo da baía da vila. A próxima fase será de avaliação científica dos vestígios, e a sua preservação no novo centro de reservas arqueológicas. Já a carta arqueológica subaquática será concluída "ao ritmo do processo de reformulação do Plano Director Municipal".

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