Ingenuidade ditou derrota portista, não o dinheiro

Foto
O FC Porto não resistiu ao poderio dos “citizens” Foto: José Manuel Ribeiro/Reuters

O FC Porto vai ter de fazer o que nunca conseguiu para seguir em frente na Liga Europa e continuar a defender o seu título: vencer em Inglaterra em jogos oficiais. E precisará de marcar pelo menos duas vezes. Uma primeira parte promissora deu lugar a uma segunda metade de pesadelo, que resultou na derrota no Estádio do Dragão perante o Manchester City (1-2). Mais do que os milhões do líder da Premier League foram os próprios erros individuais a ditar o desaire dos “dragões”, que travaram o que os visitantes construíram com critério, mas deitaram quase tudo a perder com dois lances evitáveis.

Foi uma oportunidade perdida para o FC Porto, que conseguiu atenuar a diferença de riqueza para o adversário. A contratação dos “onze” titulares do City custou 192 milhões de euros ao clube e os suplentes mais 127 milhões (mais do que um banco, é um cofre-forte). Desde que o xeque Mansour Bin Zayed Al Nahyan, membro da família real de Abu Dhabi, comprou o City, em Agosto de 2008, já gastou 468 milhões de euros em reforços e outra fatia superior a 400 milhões em outros investimentos no clube. Por isso, os visitantes partiram para esta eliminatória com o estatuto de favoritos.

No entanto, no jogo de desta noite começou por valer o estatuto de detentor do título. Como raramente tem acontecido esta época, o FC Porto surgiu em campo com vontade real de roubar a posse ao adversário, com pressão efectiva sobre a bola. Isso, mais a eficaz troca de bola entre os seus jogadores, pelo menos até esta chegar a Hulk, colocaram os “azuis e brancos” por cima do jogo na parte inicial. A marcação rápida de um canto, aos 15’, poderia ter dado frutos, mas Clichy, na primeira acção primordial de uma grande primeira parte do lateral francês, desviou o cabeceamento de Rolando e evitou o golo.

Nos minutos seguintes, já depois de o FC Porto ter perdido Danilo devido a uma lesão, lance que diminuiu a dinâmica da equipa no lado direito, foi protagonista Helton, que frustrou Balotelli, Micah Richards e Nasri. A equipa de Vítor Pereira respondeu a este primeiro período de qualidade do adversário com uma boa combinação que resultou em golo: Lucho passou para Hulk e este cruzou para Varela inaugurar o marcador (27’), um lance que surgiu pouco depois de o FC Porto ter reclamado um penálti de Kompany sobre o brasileiro.

Até ao intervalo, Helton fez uma boa defesa a um remate de Balotelli, que apareceu sozinho, mas preferiu rematar à entrada da área quando podia aproximar-se da baliza portista, e Hulk rematou por cima com o pé direito. Ao intervalo, o resultado, apesar do perigo criado pelos visitantes, era justo e podia medir-se pelo facto de Álvaro Pereira ter passado mais tempo na área do City do que na sua.

Mas as coisas mudaram no segundo tempo. A formação inglesa, que não facilitou e até usou Yaya Touré de início depois da sua participação na CAN, dominou a posse de bola e começou por mostrar as suas intenções com um remate ao poste de Richards, o único no “onze” que não custou dinheiro, pois é proveniente da formação. Aos 55’, Helton estragou o que fez de bom antes com uma saída indecisa e a jogada, aparentemente inofensiva, terminou com um autogolo de Álvaro Pereira. O único sinal de perigo dos portistas acabou por ser um livre directo de Hulk que Joe Hart defendeu.

O grande jogo dos primeiros 45 minutos deu lugar a um segunda parte mais monótona. O FC Porto não conseguiu penetrar mais na defesa adversária e equipa de Roberto Mancini parecia satisfeita com um empate que já lhe era favorável.

Contudo, novo erro portista ajudou a criar um golo de ouro para o City perto do fim: Moutinho tentou passar a bola por cima de um adversário e Touré, um dos seis jogadores do Manchester City usados por Mancini que custaram mais de 27 milhões, serviu nas calmas Aguero, que fez o golo, provavelmente o mais fácil dos 19 que marcou esta temporada.

Além do resultado, houve mais três más notícias para o FC Porto: as lesões de Danilo e Mangala e o amarelo a “Palito”, que não poderá jogar a segunda mão. E apenas uma boa: a garantia de que, em Inglaterra, não sofrerá um autogolo do lateral uruguaio.

POSITIVOClichy e Kompany

O Manchester City marcou dois golos no Estádio do Dragão, mas a defesa talvez tenha sido o seu melhor sector. A começar por Gael Clichy, que evitou um golo e fez vários cortes providenciais. O central belga Kompany não lhe ficou atrás e também esteve em grande nível.


Fernando

O FC Porto desperdiçou uma grande exibição de Fernando contra as estrelas do City. Foi fundamental na recuperação de bolas e decisivo em algumas intercepções, bem como na pressão que exerceu sobre David Silva e companhia.


NEGATIVO
Hulk

A assistência para o golo portista foi uma intervenção importante, mas praticamente a única positiva de Hulk ao longo de todo o jogo. O resto resume-se a perdas de bola e tentativas frustradas de desequilibrar em lances individuais.


Erros infantis do FC Porto

Cometer tantos equívocos talvez não fosse tão mau contra outras equipas menos apetrechadas e com menos recursos. O Manchester City, no entanto, fez os “dragões” pagarem caro o autogolo de Álvaro Pereira e a sobranceria de João Moutinho.


Ficha de jogo

FC Porto,


1

Man. City,


2

Jogo no Estádio do Dragão, no Porto.Assistência
47.416 espectadores.

FC Porto

Helton, Danilo (Mangala, 22’, Defour, 89’), Rolando, Maicon, Álvaro Pereira, Fernando, Lucho Gonzalez, João Moutinho, Varela (Kléber, 77’), James Rodriguez e Hulk.

Treinador

Vítor Pereira

Man. City

Hart, Richards, Kompany, Lescot, Clichy, Barry, De Jong, David Silva (Kolarov, 82’), Touré, Nasri (Zabaleta, 88’) e Balotelli (Aguero, 78’).

Treinador

Roberto Mancini

Árbitro

Cuneyt Cakir, da Turquia.

Amarelos

Danilo (21’), Touré (25’), Álvaro Pereira (54’), Kompany (59’), De Jong (60’), Barry (61’), Nasri (74’) e Richards (90+3’).

Golos

1-0, por Varela, aos 27’; 1-1, por Álvaro Pereira (p.b.), aos 55’ e 1-2, por Aguero, aos 84’.

Notícia actualizada às 23h05
Sugerir correcção
Comentar